São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Gasto com educação permite diferentes interpretações

JUCA GIL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados do Pisa já indicam há muitos anos que as famílias brasileiras gastam demais com as escolas privadas, pelo menos do ponto de vista do custo-benefício.
Se comparados os resultados dos estudantes destas escolas com os de escolas públicas da OCDE, as privadas brasileiras são muito ruins.
Uma explicação para os brasileiros gastarem tanto em educação privada deve-se à pequena oferta pública de ensino superior. Em 2009, apenas 16,9% dos estudantes universitários brasileiros estavam em instituições públicas, sendo que a média da OCDE era de 61,8%. Dos países citados no estudo, apenas Chile e Coreia são mais privatizados do que nós.
De que forma os recursos gastos pelas famílias com educação poderiam ser reduzidos? Se estas matriculassem os filhos em escolas públicas e usassem seu poder socioeconômico para pressionar governos a propiciar educação de qualidade para todos, como nos países ricos.
Sobre a comparação de gastos totais do Brasil com os da OCDE, são possíveis alguns vieses de análise. Num país com PIB grande (por ser muito industrializado, por exemplo), apesar de as famílias gastarem muito em termos absolutos (valores monetários), isso é pouco expressivo em termos relativos (parcela do PIB).
Considerando o instrumento que equaliza o poder de compra entre países (chamado dólar PPP), o Brasil gasta pouco com educação.
A média da OCDE é quatro vezes maior que a brasileira.
Outra distorção é comparar nossos gastos com países que não possuem mais analfabetos, já universalizaram o acesso à educação básica e tem proporções várias vezes maiores de jovens no ensino superior. Esses países gastam para "manter" o sistema já existente e estruturado.
Nós temos que gastar para criar sistema e estruturá-lo. E o governo brasileiro (e seu povo) paga parte da conta da educação privada, o que é uma injustiça. Em 2011 o Imposto de Renda permite a dedução de despesas com educação no valor de R$ 2.830,84 por pessoa ou dependente. É dinheiro público subsidiando escola privada.
Neste mesmo ano, a principal política que financia a educação estatal, o Fundeb, destinará aos alunos pobres dos anos iniciais do fundamental R$ 1.722,05. Isso tem nome: desigualdade social.

JUCA GIL é doutor em educação pela USP e docente da Universidade Federal do RS


Texto Anterior: Crescem recursos destinados pelas famílias à pós
Próximo Texto: Foco: Morador de favela na divisa com Osasco combate novos barracos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.