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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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DANUZA LEÃO

Vivendo e aprendendo

Dizem que o abandono é das maiores dores que se podem sofrer; é mesmo, e ninguém está livre de ser deixado. Mas, para que o dano não seja fatal, é preciso estar atento -e forte- em todos os momentos da vida.
O amor não acaba de uma hora para a outra; ninguém, apaixonado, cai de encantos por outra pessoa assim, de repente. As coisas vão ficando ruins aos pouquinhos.
No auge da paixão, ele chegava tarde (do trabalho, é claro), entrava debaixo dos lençóis, se encaixava todo carinhoso e você, que fingia estar dormindo, se encaixava também, toda feliz. Lembra? Se agora ele se deita bem de mansinho para não te acordar, e de costas, é bom ficar com os olhos muito abertos, aliás, esbugalhados. Se fica tempo demais sem dizer "vem cá, mulher, senta aqui do meu lado", se não reclama porque você está demorando muito no banho ou na cozinha, ligue o alerta. Homem tem que querer a gente por perto o tempo todo, ou então não vale.
Para ter a certeza de que ele está se distanciando, preste muita atenção; nada de revistar os bolsos ou tentar controlar o celular, essas baixarias são inúteis. Também não caia na conversa de que nós, mulheres, somos ciumentas e neuróticas. É verdade, mas somos também inteligentes e perceptivas, por isso enxergamos as coisas até antes de elas acontecerem.
Uma mulher cruza com outra na rua, mesmo com ele bem longe, e sente um súbito ódio; por quê? Porque sabe que é ali que mora o perigo. A gente sabe, e quando começam os primeiríssimos sinais de que o clima está mudando -e nesse terreno a mudança é sempre para pior-, existem duas opções: fingir que não está percebendo ou se ligar.
Há as que não querem ver -por comodidade, cegueira mental, dificuldade em lidar com a realidade. Por acharem que pode ser apenas uma fase, elas ficam mudas e paralisadas. Se são abandonadas, passam o resto da vida com a auto-estima abaixo do nível do mar e se sentindo as mais infelizes das criaturas.
Como se não bastasse, pensam que continuam apaixonadas pelo homem que as abandonou, o que não pode ser verdade: como é possível gostar de quem não gosta mais da gente? Saudades dos bons tempos pode até ser -às vezes-, mas o pior é achar que nunca mais vai poder acreditar em homem nenhum, porque aí a vida fica muito ruim.
Quando você perceber que seus antigos sonhos estão se transformando em pesadelo, mesmo que ainda esteja apaixonada, é bom começar a pensar no futuro, num futuro sem ele. Mesmo sofrendo, vá nadar, entre numa aula de equitação, cuide da pele, dos cabelos e do cérebro, leia, informe-se, prepare-se, enfim; se acontecer o pior -que pode até virar o melhor-, já estará prontinha para uma nova vida. Detalhe: muitas vezes essas providências colocam uma pulga bem atrás da orelha deles, o que é sempre bom.
Não existe nada pior do que continuar ao lado de um homem que se desapaixonou, e como guerra é guerra, quando sentir que a derrota está próxima, faça uma retirada estratégica. Sem drama: se tiver que chorar, chore, mas só depois, quando estiver sozinha. E prepare-se, pois, quando essa retirada é feita na hora certa, eles costumam querer voltar; os homens são todos iguais (e as mulheres também).
Se isso acontecer, você vai poder escolher: ou diz não àquele que quase te deixou, o que é uma to-tal delícia, ou não resiste e cai naquele flashback básico, o que é perfeitamente normal em qualquer pessoa que se preze.
Bem interessante a vida, não?

E-mail - danuza.leao@uol.com.br



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