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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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VIDAS NOVAS

Após maratona para vencer problemas de fertilização, assistente social tem primeiro Dia das Mães junto a quíntuplos

Bebês multiplicam alegria materna por 5

Caio Guatelli/Folha Imagem
Jiselle San Juan Bacchin, 34, mãe de Vitória (em seu colo), Ramon, Nicolas, Ana Helena e Milena, que completaram 6 meses ontem


CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A PIRACICABA

Hoje, Jiselle não vai chorar. Após dez Dias das Mães tentando disfarçar as lágrimas pelo fato de não ter filhos, neste ano ela tem cinco motivos para comemorar: seus quíntuplos Ana Helena, Milena, Vitória, Nicolas e Ramon, que completaram seis meses ontem.
Mesmo às voltas com as trocas de fraldas e as mamadas, a cada duas horas, as papinhas e os banhos, que, juntos, ocupam pelo menos 15 horas dos seus dias e outras tantas das suas noites, a assistente social Jiselle San Juan Bacchin, 34, de Piracicaba (SP), derrete-se: "Sou a mãe mais feliz do mundo". Detalhe: por dia, os bebês consomem três latas de leite em pó e 60 fraldas descartáveis.
Desde que se casou com o comerciante Jaime Bacchin, 51, há dez anos, a assistente social Jiselle sabia que só teria chances de ser mãe por meio de fertilização in vitro, pois o marido, pai de duas filhas do primeiro casamento, era vasectomizado havia mais de 20 anos. Mas a renda do casal, R$ 3.000 mensais, não permitia o tratamento, que custa, em média, R$ 12 mil por tentativa.
Em 1999, eles decidiram fazer um financiamento e arcar com os custos da fertilização -R$ 10 mil, na época-, que não deu certo. "Quando vi que não estava grávida, meu mundo caiu. Ficamos tristes, desanimados e sem acreditar que poderia haver uma nova chance", conta a mãe.
A chance veio há um ano, quando, quitado o primeiro financiamento, o casal, que mora em casa alugada, resolveu fazer outro. Dessa vez, para bancar o tratamento em uma das clínicas mais renomadas de São Paulo, que cobra R$ 18 mil cada tentativa de fertilização. "Era minha última chance. Se não conseguisse, iria adotar um bebê."
Novamente, quatro embriões foram transferidos ao útero. No primeiro ultra-som, veio a grande surpresa: cinco coraçõezinhos pulsavam freneticamente. Um dos óvulos havia se dividido, originando os univitelinos Nicolas e Ramon. "Foi a minha gratificação, meu bônus", brinca a mãe. As chances desse tipo de gravidez ocorrer não chegam a 0,1%.
Segundo Jiselle, a clínica de reprodução assistida sugeriu que ela fizesse uma redução embrionária, prática autorizada pela Justiça quando a gravidez põe em risco a vida da mãe e dos bebês, caso de uma gestação de quíntuplos.
"Falamos não na hora. Jamais me perdoaria se tivesse de escolher qual dos meus filhos teria direito à vida", diz.
Ciente dos riscos de aborto espontâneo e de parto prematuro, o casal guardou segredo sobre os quíntuplos até o quarto mês de gravidez. Para explicar os 37 quilos ganhos durante a gestação, Jiselle dizia estar grávida de gêmeos. A partir do quinto mês, ela tinha dificuldades para caminhar e precisava da ajuda do marido para se virar na cama. "Ele foi tudo para mim", diz, emocionada.
O parto aconteceu no dia 10 de novembro na 31ª semana de gestação. A primeira a nascer foi Ana Helena, com 1,355 kg, seguida de Milena, 1,340 kg, Ramon, 1,210 kg, Nicolas, 1,430 kg, e Vitória, 1,240 kg. A cesariana durou 40 minutos e foi realizada por uma equipe de 27 médicos e enfermeiras.
Mas o pior estava por vir. Devido à prematuridade, quatro dos bebês ficaram dois meses na UTI neonatal do Hospital dos Plantadores de Cana. Ramon, o menorzinho, permaneceu internado mais um mês devido a complicações no pulmão e no coração.
Jiselle passava o dia todo no hospital acompanhando o desenvolvimento dos bebês. "Foi a pior coisa que já vivi na vida. Preferiria outras dez gestações a ter de passar um dia na UTI neonatal", diz, embalando a chorosa Milena.
Passado o susto, a preocupação do casal agora é quitar o "financiamento dos filhos" e fazer o terceiro empréstimo bancário para comprar um terreno e construir a tão sonhada casa própria. Antes disso, pretendem trocar de carro. O Verona 93 logo, logo ficará pequeno para tanta gente.
Com a chegada dos quíntuplos, as despesas domésticas da família cresceram na mesma proporção. Segundo Jiselle, que parou de trabalhar fora quando ficou grávida, quase toda a renda do marido vai para o sustento das crianças.
A situação só não está pior, diz ela, porque sempre aparece alguma ajuda externa. Por ocasião do nascimento dos bebês, por exemplo, o Rotary Clube da cidade fez uma campanha para a arrecadação de fraldas descartáveis. O estoque, porém, acabou. "Meu melhor presente agora é fralda."
Com o dinheiro curto, só dá para bancar uma babá à noite, das 22h às 7h. Durante o dia, Jiselle conta com a mãe, Helena, e a avó, "dona Lola", para dar banho, trocar e amamentar os bebês.
A partir das 19h, é a vez das vizinhas entrarem em campo. Religiosamente, elas ajudam a cuidar das crianças até elas irem para o berço, por volta das 22h. "Todo dia é uma festa. Fica todo mundo na sala assistindo TV", conta.
Sábado, a mobilização é das madrinhas. Cada uma pega um bebê e leva para passar o dia em suas casas. "É quando consigo respirar um pouco", diz a supermãe.



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