São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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VIOLÊNCIA

Sindicato de empresas de segurança repassou denúncia à polícia no dia 23; na sexta, funcionário matou adolescente

PF sabia de ronda ilegal no Alto de Pinheiros

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Jovens ao lado de pichação feita no local onde o adolescente Guilherme Mendes de Almeida foi morto, na praça Vicentina de Carvalho


SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Havia pelo menos 15 dias que a Polícia Federal tinha notícia de que rondas irregulares estariam sendo feitas pela empresa de vigilância Itaim em ruas do Alto de Pinheiros, uma região nobre da zona oeste de São Paulo.
A denúncia foi encaminhada à PF pelo Sesvesp (sindicato das empresas de segurança) em 23 de abril. Na sexta, 7 de maio, sem que nenhuma fiscalização tenha sido feita na empresa, o adolescente Guilherme Mendes de Almeida, 15, foi morto por um homem que estava a serviço da Itaim.
Sem se identificar, moradores da região dizem que pagavam R$ 100 mensais pela vigilância armada nas imediações de suas casas -pela lei, não pode existir ronda armada em via pública (fora de empresas, condomínios etc.).
O dono da Itaim, o ex-PM Marcos Lenehrt de Oliveira, 40, nega a atividade irregular, diz que sua firma faz monitoramento de alarme e afirma que seus funcionários circulam pela região -sempre desarmados- apenas para "dar suporte técnico" a seus clientes.
"Não faço serviço de segurança. Os carros são caracterizados, sim. Mas essa parte ostensiva é natural no monitoramento de alarme. Serve até como divulgação. Aí é uma questão de interpretação de cada um [se isso funciona ou não como segurança]. O que os técnicos fazem se notam algo errado? Chamam a polícia", disse o empresário, por telefone, à Folha.
Muitos dos moradores que narram os pagamentos mensais pela segurança, no entanto, não têm alarme instalados em suas casas.
No domingo, a Justiça decretou a prisão de Carlos Almir de Oliveira Souza, o homem acusado de ter disparado cinco tiros em Almeida. A Itaim informa apenas que ele é motorista e que não deveria estar armado. Até a noite de ontem, Souza seguia foragido.

Há 38 casos na fila
A denúncia feita contra a Itaim Vigilância é uma das 200 anuais apresentadas à Polícia Federal pelo sindicato das empresas de segurança. Representante patronal, a entidade tem no combate à clandestinidade uma de suas bandeiras, já que os ilegais -com preços até 85% menores do que os das firmas regularizadas- abocanham importante fatia do mercado, que movimenta R$ 8,2 bilhões por ano (veja quadro na pág. C3).
A PF confirma ter recebido a denúncia e emitido uma ordem de serviço para a fiscalização da Itaim exatos cinco dias depois de informada pelo sindicato da possível irregularidade. Até ontem, no entanto, a ação não havia acontecido "devido ao volume de trabalho e à greve dos agentes [iniciada em 8 de março]".
A Itaim não tem alvará da PF para fazer nenhum tipo de vigilância. Mesmo que o tivesse, não existe modalidade que autorize a ronda armada em via pública.
Uma cópia da ordem de serviço obtida ontem pela Folha traz como data de início da fiscalização na Itaim o dia 11 de maio -hoje.
O registro está feito a mão. A PF diz que a data já havia sido agendada em 28 de abril -antes do assassinato- e que "a espera decorre da falta de pessoal para ações imediatas".
A Delegacia de Controle da Segurança Privada tem de fiscalizar todas as empresas de segurança e as agências bancárias do Estado. Para isso, porém, mantém menos de 50 homens. Depois da Itaim, segundo a própria PF, há na fila outras 38 empresas denunciadas, cujas ordens de fiscalização ainda não puderam ser cumpridas.

Discussão banal
A discussão entre o adolescente Guilherme de Almeida e o acusado Carlos Oliveira Souza teria começado na tarde de quinta, quando o rapaz e um grupo de amigos que freqüentavam regularmente a praça Vicentina de Carvalho chamaram a atenção de dois homens que ocupavam um Uno Mille branco. Eles teriam reclamado do excesso de velocidade do carro e ameaçado chamar a polícia.
Na sexta, mais uma vez, às 18h, o vigilante que conduzia o carro na tarde anterior passou pela praça. Dessa vez, estava sozinho, em um Palio. Almeida, então, o reconheceu e, ao passar por ele, gritou para que andasse "mais devagar". O vigilante saiu do carro e apontou uma pistola para o grupo -três garotos e três meninas.
Depois de pedir para os adolescentes virarem de costas, atirou em Almeida. O rapaz tentou correr, mas levou mais quatro tiros -no tórax e nas costas.


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