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Grupo rouba obras de Portinari e Tarsila
Para a polícia, ladrões invadiram casa nos Jardins para roubar cofre e acabaram levando quatro telas, entre elas uma de Orlando Teruz
Homens entraram no imóvel usando um vaso de flores para simular uma entrega do Dia das Mães; quadros podem ter sido danificados
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um vaso de flores para
simular a entrega de um presente no Dia das Mães, cerca de
15 homens invadiram uma casa
na rua Estados Unidos, nos Jardins (zona oeste de SP), ontem,
e roubaram um quadro de Tarsila do Amaral, dois de Candido
Portinari e um de Orlando Teruz. Para retirar as obras da
moldura, os ladrões usaram
uma espécie de faca -o que pode ter danificado as obras.
As telas levadas foram "Figura em Azul" (1923), de Tarsila,
"Cangaceiro" (1956) e "Retrato
de Maria" (1934), de Portinari,
e "Crucificação de Jesus", de
Teruz. Juntas, elas têm valor
estimado em R$ 3 milhões.
Para a polícia, os alvos não
eram as obras, mas um cofre.
Como não havia nada dentro
dele, o bando fez uma varredura na casa, onde estavam a proprietária Ilde Maksoud, 85, ex-mulher do empresário Henry
Maksoud, e quatro funcionários -entre eles um vigia.
A nora de Ilde, que chegou à
casa durante o assalto, também
foi rendida. Ninguém foi ferido.
Só depois de revistarem a casa atrás de dinheiro e joias, os
ladrões pegaram as obras. Bijuterias e R$ 120 dos funcionários também foram levados.
Ilde Maksoud é conhecida
por sua coleção. Para a polícia,
no entanto, os ladrões decidiram invadir a casa não por conta das obras, mas por considerar o imóvel pouco seguro -só
havia um vigia desarmado.
O delegado Celso Damasceno, do 78º DP (Jardins), disse
considerar os assaltantes
"amadores". Jones Bergamin,
diretor-presidente da Bolsa de
Arte do Rio, concorda: os ladrões danificaram as telas.
Além dos cortes feitos para
retirá-las das molduras, quando as obras foram enroladas,
parte da tinta deve ter saído. "A
tinta está seca há muito tempo,
já está bastante dura. Quando
as telas são enroladas, a tinta
despenca", afirma Bergamin.
João Candido Portinari, filho
do pintor, estima que 95% das
4.991 obras de seu pai catalogadas pelo Projeto Portinari estejam nas mãos de colecionadores particulares e que roubos
como esses são comuns. Ele diz
que as duas obras são de períodos significativos do pintor.
Os ladrões também danificaram uma escultura de Victor
Brecheret (1894-1955). "Não
sabemos por que os criminosos
arrancaram a base da escultura.
Ela foi encontrada jogada na
casa", afirmou o delegado.
Presente
Os criminosos chegaram à
residência por volta das 9h20
de ontem. Um ladrão com um
vaso de flores disse que levava
um presente de Dia das Mães e
foi autorizado a entrar. Ele, então, rendeu o vigilante e abriu a
porta para os outros ladrões.
"Havia alguns vestidos com
uniformes da Polícia Federal.
Eles falaram que estavam dando uma batida policial. Me fizeram subir até o quarto da patroa e acordá-la", disse a camareira Maria Aparecida Nicoleti.
Antes de fugir por volta das
10h15, o bando fez sanduíches e
bebeu refrigerantes na cozinha
-várias impressões digitais foram encontradas.
Para a polícia, os ladrões tiveram informações privilegiadas
de pessoas ligadas à casa. "Eles
falaram que não tinha nada de
valor na casa e "iam pegar o cara" que deu a dica para eles",
afirmou a camareira.
(LUIS KAWAGUTI E TALITA BEDINELLI)
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