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"Nunca vi tanta gente feia", dizem habitués
Freqüentadores reclamam do ecletismo do evento
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nunca vi tanta gente feia!",
diz o estudante bombado, descamisado e depilado Victor
Prado, 19, saindo da Parada
Gay. A frase foi ouvida muitas
vezes pela reportagem, em diferentes grupos do evento. A
maioria dos queixosos é representante da ala masculina.
De acordo com os correligionários de Prado, desde a primeira edição, 11 anos atrás, a
Parada do Orgulho GLTB se
popularizou demais e "hoje é
freqüentada por pessoas que
nem são gays".
O maior movimento brasileiro de defesa da diversidade sexual e das minorias, quem diria,
ficou muito eclético.
"Isso aqui está irreconhecível, olha só quanto mano",
aponta para um grupo de jovens de bermudão e skates o
administrador Ricardo Sá, 29.
Apesar de manter o fundamento militante, o movimento
agora recebe a adesão de pessoas que, para Sá e os cinco
amigos que o acompanham, o
descaracterizaram.
"Acontece que isso aqui é um
evento aberto, não precisa pagar nada. Então, não dá para
controlar a freqüência", diz o
professor Emanuel Via.
O preconceito parece contagioso. Esquecido da essência
suprapartidária da parada, o fotógrafo carioca Mauro Scur, 32,
diz: "Como vocês dizem aqui
em SP, só tem periferia. Lá no
Rio, a gente diria suburbano".
Isso diz respeito aos gays
também. De acordo com o maquiador Marcos Costa, 32, "as
"bonitas" são preconceituosas,
não vêm mais. Então, a parada
tomou outro rumo".
Mas, se os próprios homossexuais gostam de dizer que são
mais cuidadosos com a aparência, o número de feios causa estranhamento. Como explicar?
O stylist Ronaldo Gomes, 30,
responde sem rodeios. "O problema é o baixo poder aquisitivo da maioria. Nem sempre
aqui as pessoas são exatamente
feias; às vezes são apenas mal
tratadas. Presta atenção nos cabelos, nas peles..."
Para o gerente comercial na
área de moda Edson (ele não
diz o sobrenome), 28, óculos de
sol grande estilo máscara, camiseta regata preta e calça
comprida cáqui, "o problema é
que tem muita gente, e o número de feios é sempre maior. Aumenta na mesma proporção".
Numa tentativa de explicar
matematicamente o fenômeno
do "enfeamento da parada", o
namorado de Edson, o cubano
Carlos, arrisca um número:
"No máximo, 10% são bonitos".
"Quem são eles para dizer alguma coisa?", pergunta o bailarino Roberto Oliveira, idade
não revelada, olhando na direção do casal.
"Mais gay que eu"
Numa nítida apropriação da
militância alheia, dois rapagões
héteros dizem gracinhas nos
ouvidos de três meninas que
dançam com quatro amigos
gays. "É um evento para todo
mundo, véio. Tamos aí para
ajudar os gays", diz, debochadamente, o estudante de engenharia Tiago Lima, 22.
Como no poema, Lima e seus
amigos querem as meninas,
que querem os gays, que querem Tiago e seus amigos etc.
""Isso aí" é mais gay que eu. É
uma questão de tempo", acha o
radiologista Mateus Aguiar, 26,
denunciando a atitude do grupo de Lima, composto por rapazes de peitão depilado etc.
Ali ao lado, com um grupo de
quatro amigos, o professor de
educação física gay Bruno,1,84
m, 84 kg, 110 cm de peitoral liso
e um dos manifestantes mais
paquerados do pedaço, defende
a diversidade.
"A parada é pra todo mundo,
gente feia, bonita..." Uma menina bêbada passa e aplica um
beijo na boca de Bruno. Ele então acrescenta um "esquisita" a
sua lista de possibilidades.
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