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Alunos dão nota 7,1 para ensino médio
Apesar de avaliações oficiais apontarem baixo desempenho dos estudantes, eles aprovam a educação recebida dos colégios
Um dos poucos itens com avaliação mais crítica é a preparação para o mercado, que não foi adequada para 52% dos que já trabalhavam
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar das várias avaliações
que mostram que o ensino médio está muito aquém do desejado, os alunos, ao analisarem a
formação que receberam, têm
outro diagnóstico. No questionário socioeconômico que responderam no Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) do
ano passado, eles deram para
seus colégios nota média 7,1.
Essa boa avaliação varia pouco conforme o desempenho do
aluno. Entre os que foram mal
no exame, a média é de 7,2; entre aqueles que foram bem, ela
fica em 7,1. A análise das condições de oferta do ensino e do
corpo docente também são positivas na maioria dos quesitos.
Mercado de trabalho
Um dos poucos itens em que
ela é mais crítica é a preparação
para o mercado de trabalho.
Para 52% dos estudantes que
já trabalhavam, os conhecimentos que eles adquiriram no
ensino médio não eram adequados ao que o mercado solicitava. Um percentual ainda
maior (73%) afirmou que o que
aprendeu não tem relação com
a profissão exercida.
A boa avaliação que os estudantes fazem de sua formação
destoa do diagnóstico em levantamentos oficiais. No Saeb
(exame do MEC que avalia a
qualidade), por exemplo, as
médias dos alunos do terceiro
ano do ensino médio em português e matemática chegaram,
em 2005 (último ano com resultados já divulgados), ao menor nível desde 1995.
No Pisa (exame internacional que comprara o desempenho de alunos de 15 anos em
ciências, matemática e leitura),
o Brasil ficou nas últimas posições quando comparado com
57 países.
Para o presidente do Inep
(instituto de avaliação e pesquisa do MEC), Reynaldo Fernandes, a tendência de avaliar
positivamente o ensino não
acontece só no Brasil.
"No mundo inteiro, a avaliação dos pais ou dos alunos tende a ser positiva. Nos EUA, por
exemplo, mesmo em escolas
mal avaliadas, os pais tendem a
ser mais condescendentes. No
Brasil, outras pesquisas também já demonstraram isso."
Expectativa
Fernandes diz que a avaliação que o aluno faz é influenciada sempre pela expectativa
que tem da escola. "Alunos
mais bem preparados tendem a
ser mais exigentes. Uma escola
com fama de ser muito boa cria
alta expectativa e nem sempre
ele considera que é tudo aquilo
que esperava."
Um exemplo de bom aluno
com avaliação rigorosa da escola é Eduardo Yuji Hore, 21, que
tirou nota máxima na redação e
errou uma questão da prova
objetiva. Ele fez, no ano passado, o exame pela terceira vez.
Na primeira, só para treinar. Na
segunda, para ajudar a ingressar no curso de engenharia ambiental da Unesp. Na última,
para ingressar em ciências sociais na USP.
Hore afirma que, hoje, daria
apenas nota 4 para o colégio
onde estudou -o Etapa. "Depois que troquei o curso de engenharia ambiental pelo de
ciências sociais, percebi que a
formação humanística que recebi deixou muito a desejar.
Meu colégio se preocupou muito com a preparação para o vestibular, mas deixou de lado a
formação cultural."
Nem todos os melhores do
Enem, porém, são tão críticos
assim. Luísa Lima Castro, 18,
que tirou nota máxima na redação e na prova objetiva, deu nota 9 ao Cefet de Belo Horizonte.
"Só não dou 10 porque teve
um ou outro professor que deixou a desejar. Mas, pelo que vejo, a maioria das escolas públicas de ensino médio não tem o
investimento que a gente percebe no Cefet. É uma escola
bem cuidada e com professores
com disposição para dar aula."
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