São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Após confronto, cresce oposição à reitora

Alunos da FAU e da Unicamp aderiram ao movimento pela saída da PM da USP; até a Poli se reuniu para discutir a situação

Cerca de 400 professores -de um total de 5.434-exigiram ontem a renúncia de Suely Vilela após o confronto entre PMs e alunos


DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA

Um dia depois dos confrontos entre PMs, de um lado, e funcionários e estudantes, de outro, que deixaram um saldo de dez feridos em pleno campus do Butantã da USP, cresceu a mobilização contra a reitora Suely Vilela e pela retirada imediata dos policiais das instalações universitárias.
Até a Escola Politécnica, uma espécie de cidadela antigreve da USP, reduto dos alunos mais aplicados -aqueles que os demais chamam de "CDFs" ou até de "direita furiosa"-, tiveram o seu momento de revolta contra a ação da PM. Realizaram assembleia com quórum superior a 250 pessoas, convocada em regime de urgência pelo tradicional Grêmio Politécnico.
Na convocação da assembleia, a diretoria do Grêmio (que fez questão de se dizer contrária "a diversas pautas do movimento liderado pelo DCE", o Diretório Central dos Estudantes) fez seu relato dos acontecimentos da véspera:
"Foi surpreendente a reação desmedida da PM. Por mais de uma hora, o prédio [da História] passou a ser bombardeado com gás lacrimogêneo, que não distinguia manifestante de estudante em aula, professor em greve do que leciona, funcionário sindicalista de segurança terceirizado. (...) A PM não pediu a carteirinha da USP para os manifestantes. Não perguntou se quem estava lá era a favor ou contra a greve. Apenas viu um inimigo comum, os estudantes."
"Essa reitora, Suely Vilela, poderia ter dito "Aqui a polícia não entra. Não entra." Mas ela não fez isso. Ela chamou a polícia", acusou o professor Francisco Miraglia, do Instituto de Matemática e Estatística.
Reunidos em assembleia ontem no prédio da História e Geografia, cerca de 400 docentes (de um total de 5.434) aprovaram por unanimidade a exigência de renúncia da reitora.
Segundo os professores, Vilela é responsável pelo que chamaram de "ação violenta da PM no campus", que incluiu o uso de bombas de efeito moral, balas de borracha e cassetetes. Do lado dos manifestantes, registraram-se agressões aos PMs com pedras e xingamentos.
Os professores fizeram sua maior assembleia desde o início do atual movimento reivindicatório. Mas não foi a discussão sobre o piso salarial, ou sobre o projeto de implantação do ensino a distância, ou ainda sobre plano de carreira docente (os temas até então em pauta), que dominou os discursos. Um docente disse: "Tudo isso ficou menor. Agora, a prioridade é enfrentar a opressão, o autoritarismo, a autocracia, a tirania imoral dessa reitora incapaz de conviver com manifestações democráticas".
A professora Adma Muhana, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, homenageou alunos que, segundo ela, a protegeram enquanto a tropa lançava bombas sobre o prédio da História e Geografia.
Uma dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da USP (que reuniu ontem 500 funcionários em assembleia) ironizou a situação. "A gente devia agradecer à Suely. Tudo o que mais de 50 dias de greve não conseguiram em termos de mobilização, ela criou com esse gesto tresloucado de chamar a polícia e deixá-la agir como se enfrentasse soldados do tráfico."
Apesar do clima anti-PM e anti-reitora, e da presença de uma barricada montada pelos estudantes em frente ao prédio da História, a Folha apurou que a maioria dos 231 cursos da USP seguiram funcionando normalmente. Uma passeata marcada para a tarde de ontem até a avenida Paulista foi adiada para a próxima terça-feira.
Alunos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e professores da Unicamp também decidiram entrar em greve em apoio à retirada da PM da USP. O campus da Unesp em Assis (427 km de SP) decidiu paralisar atividades até terça, quando será realizado ato de repúdio ao confronto.
Procurada pela Folha, Suely Vilela não concedeu entrevista.
(TALITA BEDINELLI, LAURA CAPRIGLIONE, PATRICIA GOMES, MATHEUS PICHONELLI E RENATA BAPTISTA)


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