São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Gravura causa polêmica em escola, e livro é recolhido

Ilustração de empalamento de 1592 está em livro distribuído para o 4º ano no Rio

Prefeitura do Rio considerou obra inadequada para faixa etária (9 a 10 anos); MEC já distribuiu 1,8 milhão de exemplares desde 2007


FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Uma ilustração feita há mais de 400 anos pelo artista francês Theodore de Bry virou motivo de polêmica na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro.
A imagem -de 1592, segundo o Ministério da Educação- mostra índios praticando empalamento, suplício praticado por tribos que habitavam o Brasil no século 16. Uma estaca é introduzida no ânus de um adversário capturado até atravessar os órgãos e chegar à boca.
Após divulgação da imagem no jornal "O Dia", a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin, decidiu recolher o livro de história onde ela aparecia. O material fora distribuído aos alunos do 4º ano (antiga 3ª série) do ensino fundamental.
A ilustração foi considerada "inadequada" para alunos dessa série, cuja faixa etária varia de nove a dez anos.
Na reportagem, pais de alunos dizem temer que as crianças copiem o ato. "Precisamos proteger os alunos, e todo cuidado é pouco", disse Costin.
Para Manolo Florentino, historiador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a imagem não influencia o comportamento dos alunos. "Se fosse assim, nenhuma criança poderia ver uma representação de Cristo crucificado", afirma. "É muito mais grave a influência dos retratos de negros escravizados, maltrapilhos, sobre um aluno negro."
Já para Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras e ex-secretário estadual da Educação do Rio, a decisão foi acertada. Tal como Costin, ele acha a ilustração inadequada para crianças. "Chocar uma criança não é dar educação a ela."
O livro, da coleção "Projeto Pitanguá", é publicado pela editora Moderna desde 2003. Em 2005, foi encaminhado para avaliação do MEC.
A seleção coube a professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A partir de uma lista com várias opções, diretores e professores de cada escola escolhem o livro que vão adotar.
Segundo o MEC, desde 2007, quando o livro chegou à rede pública, já foram entregues 1.784.391 exemplares, em vários Estados. A pasta afirmou respeitar a decisão de Costin, mas não considera o livro inadequado nem vai recomendar que ele seja substituído.
Para o ministério, a ilustração está contextualizada e faz parte do conteúdo do 4º ano.
A editora Moderna diz que a imagem é uma gravura histórica pertencente à Biblioteca Municipal Mário de Andrade, em SP, e mostra "a visão de um artista do século 16 a respeito de um hábito cultural da tribo tupi". Afirma ainda que as ilustrações devem ser analisadas no contexto de época e cultura.



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