|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gravura causa polêmica em escola, e livro é recolhido
Ilustração de empalamento de 1592 está em livro distribuído para o 4º ano no Rio
Prefeitura do Rio considerou obra inadequada para faixa etária (9 a 10 anos); MEC já distribuiu 1,8 milhão de exemplares desde 2007
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Uma ilustração feita há mais
de 400 anos pelo artista francês
Theodore de Bry virou motivo
de polêmica na rede municipal
de ensino do Rio de Janeiro.
A imagem -de 1592, segundo
o Ministério da Educação-
mostra índios praticando empalamento, suplício praticado
por tribos que habitavam o Brasil no século 16. Uma estaca é
introduzida no ânus de um adversário capturado até atravessar os órgãos e chegar à boca.
Após divulgação da imagem
no jornal "O Dia", a secretária
municipal de Educação, Cláudia Costin, decidiu recolher o
livro de história onde ela aparecia. O material fora distribuído
aos alunos do 4º ano (antiga 3ª
série) do ensino fundamental.
A ilustração foi considerada
"inadequada" para alunos dessa série, cuja faixa etária varia
de nove a dez anos.
Na reportagem, pais de alunos dizem temer que as crianças copiem o ato. "Precisamos
proteger os alunos, e todo cuidado é pouco", disse Costin.
Para Manolo Florentino, historiador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a
imagem não influencia o comportamento dos alunos. "Se
fosse assim, nenhuma criança
poderia ver uma representação
de Cristo crucificado", afirma.
"É muito mais grave a influência dos retratos de negros escravizados, maltrapilhos, sobre
um aluno negro."
Já para Arnaldo Niskier, da
Academia Brasileira de Letras e
ex-secretário estadual da Educação do Rio, a decisão foi acertada. Tal como Costin, ele acha
a ilustração inadequada para
crianças. "Chocar uma criança
não é dar educação a ela."
O livro, da coleção "Projeto
Pitanguá", é publicado pela editora Moderna desde 2003. Em
2005, foi encaminhado para
avaliação do MEC.
A seleção coube a professores
da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
A partir de uma lista com várias opções, diretores e professores de cada escola escolhem o
livro que vão adotar.
Segundo o MEC, desde 2007,
quando o livro chegou à rede
pública, já foram entregues
1.784.391 exemplares, em vários Estados. A pasta afirmou
respeitar a decisão de Costin,
mas não considera o livro inadequado nem vai recomendar
que ele seja substituído.
Para o ministério, a ilustração está contextualizada e faz
parte do conteúdo do 4º ano.
A editora Moderna diz que a
imagem é uma gravura histórica pertencente à Biblioteca
Municipal Mário de Andrade,
em SP, e mostra "a visão de um
artista do século 16 a respeito
de um hábito cultural da tribo
tupi". Afirma ainda que as ilustrações devem ser analisadas
no contexto de época e cultura.
Texto Anterior: Violência: Universitária é presa suspeita de sequestro Próximo Texto: Frases Índice
|