São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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AIDS

Em 1997, 80% dos que tiveram a doença diagnosticada continuavam vivos três anos depois, contra 22,8% em 1992

Pesquisas mostram eficácia do coquetel

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Pesquisa com pacientes de Aids em São Paulo revelou que cerca de 80% dos que tiveram a doença diagnosticada em 1997 continuavam vivos três anos depois. Entre os que descobriram a doença em 1992, apenas 22,8% tinham resistido nos três anos seguintes. Num período de cinco anos, de 92 a 97, as chances de sobreviver com a Aids aumentaram três vezes.
A passagem dos quase 80% de mortos para os cerca de 80% de vivos é explicada pelo emprego da terapia do coquetel, combinação de drogas que passou a ser distribuída pela rede pública em 1997.
Os dados constam de pesquisa divulgada ontem na 14ª Conferência Internacional de Aids, que acontece em Barcelona. O estudo foi feito com pacientes do CRT-Aids (Centro de Referência e Treinamento em Aids) da Secretaria de Estado da Saúde. Foram acompanhados 443 pacientes que tiveram diagnóstico em 1992 e 628 em 1997. Entre outros 519, que tiveram a doença identificada em 1995, 38,2% estavam vivos três anos depois.
"Os resultados demonstram a importância da terapia tríplice [o coquetel" e do acesso a essa terapia", diz o autor do estudo, o médico Artur Kalichman, coordenador do CRT-Aids.
Outro estudo apresentado na conferência mostrou que, num período de uma década, a sobrevida da maioria dos aidéticos passou de 6,8 meses para 58 meses. A pesquisa foi coordenada pelo infectologista José Ricardo Marins, da Unicamp, com apoio da Coordenação Nacional de Aids.
Marins comparou o tempo de sobrevida de pacientes que foram diagnosticados entre 1982 e 1989 com o tempo de vida de doentes diagnosticados em 1996 em sete cidades brasileiras.
O estudo reforça o impacto do coquetel: a maioria dos que contraíram Aids em 1996 viveu 40 meses mais que os que adoeceram no ano anterior (58 meses contra 18 meses).
Na pesquisa de Kalichman, todos os pacientes acompanhados em 1997 estavam tomando ou tinham acesso ao coquetel de drogas. Levantamento do mesmo CRT-Aids mostrou que cerca de 70% dos pacientes vinham tomando 80% dos remédios de forma correta -níveis comparados aos de países desenvolvidos.
"Queremos saber agora por que eles morreram", diz Kalichman, referindo-se aos cerca de 20% que foram vítimas da doença a partir do diagnóstico em 1997.
Embora em alguns casos os medicamentos acabem derrotados pelo vírus da Aids, a suspeita de morte recai sobre a falha na adesão aos tratamentos.
Um levantamento do CDC, o centro de estudos de doenças dos EUA, divulgado na conferência mostra que a principal causa de morte é a falta de acesso ao tratamento. Entre as vítimas nos EUA, a maioria é formada por negros ou usuários de drogas.


O repórter Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott


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