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AIDS
Em 1997, 80% dos que tiveram a doença diagnosticada continuavam vivos três anos depois, contra 22,8% em 1992
Pesquisas mostram eficácia do coquetel
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA
Pesquisa com pacientes de Aids
em São Paulo revelou que cerca
de 80% dos que tiveram a doença
diagnosticada em 1997 continuavam vivos três anos depois. Entre
os que descobriram a doença em
1992, apenas 22,8% tinham resistido nos três anos seguintes. Num
período de cinco anos, de 92 a 97,
as chances de sobreviver com a
Aids aumentaram três vezes.
A passagem dos quase 80% de
mortos para os cerca de 80% de
vivos é explicada pelo emprego da
terapia do coquetel, combinação
de drogas que passou a ser distribuída pela rede pública em 1997.
Os dados constam de pesquisa
divulgada ontem na 14ª Conferência Internacional de Aids, que
acontece em Barcelona. O estudo
foi feito com pacientes do CRT-Aids (Centro de Referência e Treinamento em Aids) da Secretaria
de Estado da Saúde. Foram acompanhados 443 pacientes que tiveram diagnóstico em 1992 e 628 em
1997. Entre outros 519, que tiveram a doença identificada em
1995, 38,2% estavam vivos três
anos depois.
"Os resultados demonstram a
importância da terapia tríplice [o
coquetel" e do acesso a essa terapia", diz o autor do estudo, o médico Artur Kalichman, coordenador do CRT-Aids.
Outro estudo apresentado na
conferência mostrou que, num
período de uma década, a sobrevida da maioria dos aidéticos passou de 6,8 meses para 58 meses. A
pesquisa foi coordenada pelo infectologista José Ricardo Marins,
da Unicamp, com apoio da Coordenação Nacional de Aids.
Marins comparou o tempo de
sobrevida de pacientes que foram
diagnosticados entre 1982 e 1989
com o tempo de vida de doentes
diagnosticados em 1996 em sete
cidades brasileiras.
O estudo reforça o impacto do
coquetel: a maioria dos que contraíram Aids em 1996 viveu 40
meses mais que os que adoeceram no ano anterior (58 meses
contra 18 meses).
Na pesquisa de Kalichman, todos os pacientes acompanhados
em 1997 estavam tomando ou tinham acesso ao coquetel de drogas. Levantamento do mesmo
CRT-Aids mostrou que cerca de
70% dos pacientes vinham tomando 80% dos remédios de forma correta -níveis comparados
aos de países desenvolvidos.
"Queremos saber agora por que
eles morreram", diz Kalichman,
referindo-se aos cerca de 20% que
foram vítimas da doença a partir
do diagnóstico em 1997.
Embora em alguns casos os medicamentos acabem derrotados
pelo vírus da Aids, a suspeita de
morte recai sobre a falha na adesão aos tratamentos.
Um levantamento do CDC, o
centro de estudos de doenças dos
EUA, divulgado na conferência
mostra que a principal causa de
morte é a falta de acesso ao tratamento. Entre as vítimas nos EUA,
a maioria é formada por negros
ou usuários de drogas.
O repórter Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott
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