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ANÁLISE
O castigo físico e o direito de impor disciplina
FRANK FUREDI
ESPECIAL PARA "SPIKED'
É um sinal dos tempos que a
maior parte dos comentaristas
britânicos considere que a Lei da
Criança aprovada pela Câmara
dos Lordes seja "amena" ou "um
entendimento sensato".
A lei responsabiliza criminalmente os pais que punirem seus
filhos com mais do que um leve
tapa. Os pais estão ameaçados de
processo e de sentença de prisão
caso a palmada gere arranhões ou
marcas. A razão para que muitos
considerem esse novo poder de
policiar a família como um entendimento é porque não se confia
mais nos pais como agentes da
punição de seus filhos.
A campanha contra as palmadas é conduzida por uma agenda
mais ampla, cujo objetivo é restringir o direito paterno de impor
disciplina às crianças. A suposição é de que na maior parte dos
casos punições paternas como essas têm efeitos daninhos.
Pesquisas feitas nos dois lados
do Atlântico indicam que uma
maioria significativa de pais continua a usar punições físicas para
regular o comportamento dos filhos. Os ativistas que combatem
as palmadas reconhecem que sua
principal tarefa é forçar os pais à
defensiva, conduzindo uma campanha de propaganda contra eles.
Os ativistas que combatem as
palmadas muitas vezes são propelidos pela animosidade a toda forma de criação mais rígida de filhos. Sua oposição ao castigo físico se vincula a uma hostilidade
mais ampla contra o que vêem como estilos autoritários dos pais.
Um argumento usado para solapar a autoridade paterna é a alegação de que aquilo que é inaceitável entre os adultos não deveria
ser usado contra as crianças.
O que os ativistas estão dizendo,
na verdade, é que deveríamos renunciar a toda tentativa de impor
a vontade paterna às crianças, e
em lugar disso negociar com elas
como se fossem adultos razoáveis.
No mundo real, os pais têm de
fazer muitas coisas para seus filhos que não sonhariam em fazer
por outro adulto. Pais que jamais
ordenaram que um adulto fosse
dormir não têm dificuldade em
instruir seus filhos a ir para a cama às 19h em ponto. Pais que verificam se os traseiros de seus filhos estão limpos provavelmente
não fazem o mesmo com pessoas
de suas idades. As palmadas são
apenas uma das muitas técnicas
de criação de filhos que não são
usadas entre adultos.
Pode haver bons argumentos
morais contrários ao castigo físico
de crianças, mas eles não estão no
reino da pesquisa científica. A
despeito de numerosos estudos,
ninguém obteve sucesso em provar uma relação causal entre palmadas e prejuízos para crianças.
Uma razão para que as pesquisas não tenham conseguido fornecer munição ao lobby de oposição aos castigos físicos é que os
efeitos dos estilos de criação de filhos são variáveis. Os resultados
dependem da qualidade do relacionamento entre pais e filhos, de
circunstâncias econômicas e sociais e de expectativas culturais.
Existem até alguns indícios sugerindo que, em determinadas situações, as palmadas podem ser
uma ferramenta disciplinar efetiva. Em 1996, o psicólogo Robert
Larzelere publicou uma revisão
abrangente da literatura existente
sobre castigos físicos. Ele concluiu
que não havia indícios convincentes de que as palmadas não
abusivas prejudicassem as crianças. Também concluiu que nenhuma outra técnica disciplinar,
incluindo castigos e suspensão de
privilégios, era mais efetiva do
que a punição física para obter a
obediência de crianças com menos de 13 anos.
As conclusões de Larzelere foram confirmadas pelo trabalho da
psicóloga Diana Baumrind, da
Universidade da Califórnia, em
Berkeley. Baumrind, que inovou
o conceito de autoritarismo paterno, alega que os pais autoritários são calorosos e interessados,
e que nesse contexto uma palmada não tem efeito prejudicial.
A abordagem de Baumrind oferece um antídoto eficaz contra a
certeza dogmática dos fanáticos.
O principal mérito de seu trabalho é que ela sublinha o contexto
no qual as ações disciplinares são
conduzidas. O argumento da psicóloga é que os métodos disciplinares são mediados pela percepção das crianças quanto à legitimidade deles. No contexto de
uma relação calorosa e próxima,
as crianças são capazes de compreender a imposição de autoridade, mesmo com uma palmada
ocasional.
O desfecho de um ato de disciplina está estreitamente vinculado à forma pela qual a criança experimenta seu relacionamento. É
por isso que a mãe e o pai estão na
melhor posição para determinar
que forma de punição é apropriada para a criança.
A cruzada contra as palmadas já
obteve sucesso ao estigmatizar a
idéia de disciplina paterna, colocando os pais e as mães na defensiva. À medida que os pais se tornam ainda mais confusos quanto
às maneiras de impor disciplina
aos seus filhos, as crianças, igualmente, se confundirão quanto ao
que se espera da parte delas. Os
únicos beneficiários dessa poderosa cruzada são os lobistas profissionais cujo negócio é salvar as
crianças de seus próprios pais.
Frank Furedi escreveu "Paranoid Parenting: Why Ignoring the Experts May Be
Best for Your Child" [Pais paranóicos: Por
que ignorar os especialistas pode ser
melhor para seu filho], A Cappella Publishing, 2002
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