São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2007

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Pai se recusa a pagar fiança para o filho

Juraci denunciou seu filho de 21 anos, que foi preso por dirigir embriagado; pai espera que o rapaz reflita nesse período

A fiança de R$ 500, fixada pelo delegado, tem prazo de dez dias; após esse período, a polícia pode alterar ou até mesmo extinguir a caução

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Um representante comercial de Londrina (383 quilômetros de Curitiba) decidiu não pagar fiança de R$ 500 para libertar seu filho de 21 anos, preso no domingo por dirigir embriagado, após ser denunciado pelo próprio pai.
Juraci Martins, 54, disse, em entrevista à Folha, querer que o filho aprenda com o erro. Na tarde de domingo, o comerciário Rodolfo Martins, 21, pegou a camionete Silverado do pai sem autorização.
Avisado pela mulher, o pai acionou a Polícia Militar, informando que o filho havia saído com o carro sem permissão. Antes mesmo de ser localizado pela PM, o rapaz perdeu o controle da camionete, bateu em outro carro e derrubou o portão de uma casa.
Caçula de uma família de classe média, o comerciário foi preso em flagrante por dirigir embriagado e sem habilitação. Juraci havia proibido Rodolfo de dirigir, já que a carteira de habilitação do filho estava cassada por infrações de trânsito.
O delegado Joaquim Melo estipulou fiança de R$ 500 para liberar rapaz, mas o pai se recusou a pagar.
Rodolfo foi, então, transferido do presídio central de Londrina para uma delegacia, onde deverá ficar preso até a conclusão do inquérito.

"Responsabilidade"
"Eu amo meu filho. Mas não gosto de coisas erradas, e ele havia sido avisado para não cometer erros. Não quero passar a mão na cabeça dele por cada coisa errada que faz. Desse jeito, ele nunca terá responsabilidade", afirmou o pai.
Rodolfo parou de estudar após concluir o primeiro grau. É o único dos três filhos de Juraci -são mais duas mulheres- que não está na faculdade. "Ele é um bom menino, trabalhador, mas quando bebe e se droga ocorre isso."
A fiança fixada pelo delegado tem prazo de dez dias -após esse período, a polícia pode alterar ou até extinguir a caução. Juraci afirmou esperar que o filho reflita sobre suas ações nesse intervalo. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Apoio à decisão
A promotora da Infância e da Adolescência de Londrina, Edina de Paula, apoiou a decisão do representante comercial.
"Se todo pai tivesse esse tipo de atitude, não teríamos toda essa violência gratuita da juventude", disse a promotora.
De acordo com ela, há uma inversão de valores hoje na sociedade, com pais não impondo limites aos filhos.
"Hoje, por trabalharem fora, os pais assumem uma postura de culpa perante os filhos e esquecem que é preciso estipular limites. A atitude desse pai deve ter sido difícil, mas mostrou que ele se preocupa com o futuro do filho", completou Edina.

Crítica
O mestre em educação Edmilson Lenardão, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e integrante do Conselho de Educação do Paraná, disse ver problemas na reação do pai.
"Ele transferiu para terceiros -no caso, a polícia- um rigor que deveria ser dele. Os pais precisam educar os filhos, não transferir essa obrigação", afirmou Lenardão.


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