São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Técnicos do Metrô atacam laudo do IPT sobre cratera

Documento afirma que investigação de acidente de 2007 na linha 4 tem "inconsistências" e "afirmações errôneas"

Relatório do instituto, que custou R$ 6,55 milhões, foi pago pela companhia; gestão Serra diz que críticas não refletem posição oficial


ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI

DA REPORTAGEM LOCAL

Técnicos do Metrô prepararam um relatório no qual desqualificam as conclusões do laudo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) -que custou R$ 6,55 milhões, pagos pela companhia- sobre a cratera da linha 4-amarela, que deixou sete mortos em janeiro de 2007.
O documento diz que o trabalho do IPT tem "inconsistências", "afirmações errôneas" e "imputa falsas premissas", estando "distante da realidade".
O texto, ao qual a Folha teve acesso, busca resumir as análises do grupo de trabalho 138/ 08, instituído pelo presidente em exercício do Metrô, José Jorge Fagalli, em 6 de junho.
Ele chega a questionar a capacidade do instituto -diz que o IPT "desconhece procedimentos" e não tem experiência para buscar "obter dados sobre o andamento dos serviços, aspectos contratuais ou forma de atuação no dia-a-dia do gerenciamento de uma obra".
A importância do IPT, contratado para investigar as causas do acidente, sempre foi exaltada pelo governo José Serra (PSDB). Em janeiro de 2007, em nota, o Metrô dizia que, além da "ilibada reputação", o instituto tinha "total independência e credibilidade".
No mesmo mês, o secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, questionado sobre a confiança nos contratos da linha 4 firmados pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), disse: "Vou estar seguro depois do laudo do IPT".
Ontem, em nota, o Metrô informou que o grupo de trabalho ainda "não encerrou" os estudos e que o relatório não reflete sua opinião nem a posição institucional da companhia.
A Folha apurou que a direção do Metrô decidiu avaliar o relatório como uma minuta e que quer mudá-lo. O seu teor reflete uma disputa interna desde a divulgação do laudo do IPT, que motivou discussões ásperas entre membros do alto escalão nas últimas semanas.
A investigação do instituto apontou 11 fatores contribuintes para a tragédia, a maioria por falhas do Consórcio Via Amarela -como a não-colocação de tirantes para a sustentação do túnel, mesmo depois de sinais de alerta do colapso.
O IPT também responsabilizou a fiscalização deficiente do Metrô. Essa é a principal razão da crise interna. No governo Serra, há setores que criticam os trabalhos na gestão Alckmin e defendem punições. Outros não vêem sustentação técnica para isso, temem direcionamento e se dizem pressionados até por razões políticas.
O relatório que ataca o trabalho do IPT está mais perto do que pensa o segundo grupo. O texto diz que, no laudo, não há evidência de responsabilidade "direta ou indireta" de qualquer funcionário do Metrô.
Ele afirma, por exemplo, que, "ao contrário" das conclusões do IPT, o Metrô preparou um plano para a fiscalização da obra e inclusive o apresentou num congresso em 2003.
Diz que o instituto "desprezou no seu relatório" a atuação das equipes de fiscalização. Afirma que a velocidade de escavação da obra estava aquém do liberado no projeto -para contrapor a tese de aceleração.
O texto diz que o IPT comete "um erro gravíssimo" em relação ao grupo de gerenciamento ambiental -que teria a função de monitorar projetos ambientais, e não a situação do solo.


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