São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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Sucesso de Bruno foi "virada" para amigos

Comportamento da turma em Ribeirão das Neves se alterou com êxito do goleiro no futebol, dizem professores

Antes de despontar como estrela do esporte, Bruno e o grupo hoje suspeito de matar Eliza eram até bons alunos


HUDSON CORRÊA
ENVIADO A RIBEIRÃO DAS NEVES
RODRIGO VIZEU
DE BELO HORIZONTE

O comportamento de Bruno Fernandes e de um grupo de amigos hoje suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Eliza Samudio teve um ponto de inflexão: o início do sucesso do goleiro.
É o que dizem professores da infância e adolescência de Luiz Romão, o Macarrão, e de mais dois acusados no caso.
Antes de despontar como estrela do esporte, Bruno e sua turma eram até bons alunos, segundo quem conviveu com eles naquela época.
Embora matriculados em escolas diferentes, o goleiro e o grupo de Macarrão cresceram juntos em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas.
Bruno tem histórico escolar exemplar. Em 1995 e 1996, aos 12 anos, conseguiu média superior a 9 em estudos sociais e ensino religioso, cravou 7,6 em matemática e 8 em português e ciências.
"Ele não era de briga. Não era criança problema", diz a diretora da escola, Tânia Pinto Saraiva, 43. "E [já goleiro] passou a ser uma referência para nós. Estamos de luto. Foi um banho de água fria."

FORA DA ESCOLA
A escola onde Bruno estudou fica próxima à favela Santa Matilde, onde morou.
Macarrão, Wemerson de Souza, o Coxinha, e Flávio de Araújo eram de outro colégio, no Liberdade, a 15 km.
É nesse bairro que surgem os relatos da "virada" na vida do goleiro e de sua turma.
O grupo se conheceu fora da escola. Quando foi dispensado do juvenil do Cruzeiro, há dez anos, Bruno começou a treinar em um projeto de formação de jogadores no bairro Liberdade. Foi quando conheceu Macarrão.
Pouco tempo depois, a vida do jogador -e dos amigos- começou a melhorar.
De vendedor de picolé na porta da escola onde era bom aluno, Macarrão passou a andar em "carrões e motos de Bruno" e a promover festas barulhentas, diz um grupo de cinco professores folheando um álbum de fotos.
"Ele [Macarrão] era o primeiro da fila por ser miudinho. Era o primeiro aluno em ciência. Tinha toda assistência da família. Sempre me trazia uma flor. Quando o chamaram de monstro, desliguei a TV", afirma a professora Geralda Lucy, 49.
Outro professor, que prefere não ter o nome divulgado, diz acreditar que Coxinha e Flávio tenham "caído de gaiatos" na história atraídos pelo sucesso do goleiro.
Coxinha treinava o 100%, time criado e mantido por Bruno. Aluno de educação física, era estagiário na escola onde havia estudado.

SILÊNCIO
Ainda no bairro Liberdade, a Folha segue de casa em casa, mas ninguém aceita falar sobre Macarrão e companhia. Procurada, a mãe dele não atende a reportagem.
Uma professora deixa escapar que há "alguém dando ordem" para o silêncio.
Foi no bairro que a polícia localizou o bebê de Eliza, depois do sumiço dela.
Também na comunidade está a Lagoa Suja, onde a polícia chegou a procurar o corpo da ex-namorada de Bruno. Próxima ao local fica a boate Sinal Verde, que, dizem moradores, era frequentada pelo goleiro e seu grupo.


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