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Prédios novos se isolam dentro de favela
Moradores agora incluídos no sistema habitacional formal recorrem a muros, grades e esquemas de segurança
Fenômeno, comum há décadas em áreas de classes média e alta,
faz prefeitura reavaliar projetos de intervenção
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO
Primeiro foram muros. Depois grades, cadeados e a fechadura. Na entrada do prédio, um aviso aos moradores:
"Mantenham o portão fechado para nossa segurança".
A cena, comum em condomínios de classes média e alta, surge agora em Heliópolis, maior favela paulistana, e
em outras regiões periféricas.
Um vez incluídos no sistema habitacional formal, os
moradores também acabam
optando pela segregação.
O fenômeno já levou a prefeitura a reavaliar os projetos
de intervenção em favelas.
Muros de um lado, cortiço
do outro. Não demorou para
que a divisão passasse a ser
usada de parede para a construção de novos barracos.
"As pessoas repetem o modelo que conhecem. Muro
não é seguro, não é solução.
É uma coisa cultural brasileira", afirma Elisabete França,
superintendente de habitação popular da prefeitura.
"O fechamento é uma dificuldade na hora de fazer os
projetos e uma reivindicação
constante dos moradores",
diz o urbanista Marcos Boldarini, arquiteto de projetos
de intervenção em favela.
Os moradores também
usam o fundo de caixa do
condomínio em portaria,
guarita e portão com fechamento por controle remoto.
ESPAÇO PÚBLICO
Com os muros, muitos
conjuntos fecham as quadras
esportivas e o playground,
construídos pela prefeitura
para uso da vizinhança.
A prefeitura chegou a criar
um curso para formar síndicos de moradias populares a
fim de orientar o gerenciamento de áreas comuns.
"Os portões eram abertos,
o conjunto servia de passagem para quem morava na
favela. Decidimos fechar há
dois anos", diz José Lázaro,
síndico de um conjunto de
quatro blocos em Heliópolis.
"Espaço de convivência é
de todo mundo. Quanto menos muros, melhor", diz Antônia Cleide, presidente da
Unas, que une associações
de moradores de Heliópolis.
A solução encontrada pela
prefeitura foi fazer um fechamento mais transparente,
com grades vazadas e baixas.
A maioria dos conjuntos
entregues agora, como os da
Nova Jaguaré, zona oeste,
são cercados. Em Itaquera,
do outro lado da cidade,
além de muros, os moradores
instalaram portões com controle remoto para os carros.
Era uma favela, transformada num conjunto habitacional de 296 apartamentos,
ainda rodeado de pobreza.
Por iniciativa própria, os
vizinhos fecharam a entrada
da garagem e criaram um pátio interno com fundo de caixa do rateio do condomínio.
INTIMIDADOR
O fechamento veio depois
do roubo de carros. "Nunca
mais aconteceu, os ladrões
se intimidam", diz o morador
e ex-síndico José Nogueira.
"Há um espelhamento na
classe média, que de 20 anos
para cá ficou cercada. A comunidade tem de entender a
urbanização. É preciso conversar com esses moradores
para retirar esses fechos", diz
o arquiteto Ruy Ohtake, autor de um dos projetos de intervenção em Heliópolis, este
sem muros, cercas ou grades.
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