São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Inflamações são a mais nova ameaça para o coração

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudos recentes, um deles da semana passada, estão comprovando a gravidade do mais recente inimigo identificado do coração, as inflamações. Ao longo de décadas, acreditou-se que a aterosclerose, o entupimento das artérias que pode levar ao infarto do miocárdio, era um processo decorrente do envelhecimento.
O colesterol alto sempre foi visto como o vilão no apressamento desse processo. O que se sabe agora é que inflamações, em qualquer ponto do organismo e muitas vezes sem sintomas, podem ser tão ou mais prejudiciais que as piores frações do colesterol.
Segundo os médicos, as inflamações produzem substâncias químicas que, uma vez na corrente sanguínea, podem precipitar o rompimento dos depósitos de gordura dentro das artérias.
O risco é maior ainda quando a inflamação ocorre nas próprias placas de gordura ricas em colesterol do interior dos vasos, levando ao rompimento.
"Ao se romper, a placa libera uma substância vasoconstritora (que reduz o calibre do vaso sanguíneo), aumentando a adesividade das plaquetas e formando um trombo (coágulo sanguíneo) que fechará a artéria", diz Antonio Carlos Palandri Chagas, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Há pelo menos quatro anos os pesquisadores vêm suspeitando da ação das inflamações nos episódios cardiovasculares. Um estudo divulgado na semana passada por Paul Ridker, do Boston Brigham and Women's Hospital, confirmou que toxinas e citocinas das inflamações são tão perigosas quanto o colesterol elevado.
Nos pacientes com histórico familiar de doenças cardíacas, ou que já tiveram algum evento coronariano, os processos inflamatórios podem agravar as anginas de peito e apressar os infartos. Para esses pacientes, as inflamações representariam perigo maior que o colesterol ruim elevado.
Entre as vítimas fatais de infarto que não tinham um alto índice de colesterol, as biópsias revelaram algum tipo de inflamação.

Proteína C-reativa
Embora a maioria dos processos inflamatórios sejam assintomáticos, sua ocorrência pode ser detectada por um exame de sangue tão simples quanto o do colesterol. Trata-se de medir os níveis de uma proteína chamada C-reativa (PCR), que, em doses elevadas no sangue, indica a existência de inflamações no organismo.
Pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Europa mostraram que pessoas com níveis de PCR acima de 0,16 miligrama por decilitro de sangue (mg/dl) estavam três vezes mais propensas a apresentar problemas cardiovasculares. Já aqueles com altos níveis de colesterol e de PCR corriam riscos aumentados de seis a nove vezes.
Embora barato (cerca de R$ 30), o PCR ainda não foi adotado como exame de rotina pelas sociedades internacionais. Nos EUA, a maior parte dos médicos já estaria solicitando o teste.
"O uso preventivo desse exame ainda não é constante, mas seu emprego vem aumentando de dois anos para cá", diz Palandri Chagas. A Sociedade de Cardiologia ainda não tem um consenso a respeito, mas a grande maioria dos especialistas já pede o exame para pacientes com histórico cardíaco familiar e com colesterol alto. Nos casos de dores no peito, o exame é sempre indicado.
O tratamento é semelhante ao prescrito para portadores de colesterol alto: medicações à base de estatinas, exercícios físicos, alimentação saudável, menos álcool e cigarro. Como no caso do colesterol, exercícios físicos e alimentação chegam, em muitos casos, a dispensar os medicamentos.



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