São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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SAÚDE

Mamadeiras e bicos estão incluídos em determinação, que, segundo ministério, procura incentivar o aleitamento materno

Embalagem de chupeta terá advertência

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do cigarro, as vilãs da vez do Ministério da Saúde são as chupetas e as mamadeiras. Por determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as embalagens desses produtos deverão conter a partir de agora os seguintes dizeres:
"O Ministério da Saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. O uso da mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação e seu uso prolongado prejudica a dentição e a fala da criança."
A decisão causou revolta entre os fabricantes dos produtos e dividiu opiniões de fonoaudiólogos e ortodontistas. A maioria dos especialistas considera a advertência do ministério exagerada.
A Anvisa discorda dessa avaliação e afirma que a norma atende a recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e visa o incentivo ao aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida.
Ninguém discute o fato de que sempre se deve priorizar o aleitamento materno, mas, em situações em que isso não é possível, os especialistas garantem que o uso orientado da mamadeira e da chupeta não são prejudiciais.
"Estão querendo transformar a chupeta em droga. Para nós, isso é uma ofensa", afirma Synésio Batista da Costa, 45, superintendente da Abrapur (Associação Brasileira dos Fabricantes de Artigos de Puericultura), referindo-se à semelhança do texto de advertência da chupeta ao estampado nos maços de cigarro.
Para ele, a Anvisa agiu com "radicalismo dogmático". Segundo Paulino Araki, 50, gerente-geral de produtos para a saúde da Anvisa, a decisão da agência foi baseada em "inúmeras pesquisas científicas" e, antes de ser publicada no "Diário Oficial" da União, foi submetida a consulta pública.
"Todos os interessados tiveram oportunidade de se manifestar", diz. O superintendente da Abrapur afirma que representantes da associação tiveram mais de 30 reuniões com a Anvisa, em que foram sugeridas diferentes versões para a redação do texto de advertência, mas que a agência não acatou nenhuma delas.
Araki discorda. Ele diz que, por sugestão das indústrias, a Anvisa refez um trecho ambíguo do texto quanto ao prazo para a adequação das indústrias às novas regras. Os fabricantes terão até fevereiro de 2003 para se adequarem às determinações do ministério.

Prejudiciais
Na opinião de Maria Thereza Rezende, presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, a advertência do ministério é "forte demais". De acordo com ela, não dá para tachar a chupeta e a mamadeira como prejudiciais à dentição e à fala das crianças. "Elas podem vir a prejudicar, mas isso depende de vários fatores, inclusive hereditários", afirma. No entanto a fonoaudióloga diz que o uso da chupeta não deve ir além dos dois anos de idade.
Segundo a fonoaudióloga Ana Maria Alvarez, um terço das crianças com distúrbios da fala são usuárias de chupeta. Ainda assim, ela considera tanto o bico quanto a mamadeira importantes auxiliares em casos em que as crianças não dispõem de força suficiente para sugar o peito ou que têm necessidade emocional de uma maior sucção.
Para o ortodontista Omar Gabriel da Silva Filho, do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP (Universidade de São Paulo) de Bauru, o uso da chupeta não traz graves problemas à dentição da criança.
Diferentemente da fonoaudióloga Maria Thereza, ele acredita que os pais não devem interferir no hábito de a criança chupar chupeta até os cinco anos. Segundo ele, nessa faixa etária os defeitos e a posição dos dentes podem ser corrigidos espontaneamente ou com o uso de aparelhos.
Para ele, a atitude de retirar a chupeta -pelo medo de defeitos na arcada dentária- pode causar sérios problemas emocionais à criança. Silva considera a resolução da Anvisa "um exagero".
A decisão do ministério não se limita a advertir sobre os "perigos" das chupetas e mamadeiras. Ela também proíbe a propaganda dos produtos em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico, escrito, auditivo ou visual.



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