São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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CET se recusa a divulgar dado desfavorável

Companhia usa estratégia de marketing para inflar benefícios de restrição a caminhões, bandeira política de Kassab

Empresa de trânsito só divulga análise que aponta melhora do congestionamento; é apenas um "complemento", justifica assessoria do órgão

Fotos Raimundo Paccó/Folha Imagem
Trânsito congestionado na avenida 23 de Maio, no sentido centro, na última quinta

ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, tem usado estratégias de marketing com as estatísticas de congestionamento para inflar os benefícios da restrição aos caminhões no trânsito da cidade de São Paulo.
Uma das principais táticas é a mudança, sem explicações técnicas, dos critérios de comparação dos engarrafamentos pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Outra foi não divulgar dados detalhados para análise na sexta passada.
A última adaptação para comparar os índices de lentidão se deu na semana considerada como um teste para a avaliação do impacto da proibição ao transporte de cargas, em razão da volta à rotina de aulas -ofuscado pela chuva e dois dias com filas acima de 200 km.
Pelas estatísticas divulgadas pela gestão Kassab entre segunda e quinta, mesmo com a tempestade que atingiu a cidade houve melhoria de 3,5% no trânsito em relação a 2007.
A Folha, porém, obteve dados de um outro critério técnico de comparação -adotado pela CET até a semana retrasada, mas que ela se recusou a divulgar em quatro dias da última semana-, sinalizando situação mais desfavorável, com piora de 0,4% da lentidão.
A meta divulgada pela gestão Kassab com a restrição aos caminhões a partir de 30 de junho é atingir uma melhoria da fluidez próxima de 15%.
Especialistas vêem indícios de que a medida traz benefícios à circulação, mas consideram ser cedo para conclusões. Os resultados ruins da semana passada são atribuídos à chuva.
Na última sexta, quando a lentidão atingiu 211 km às 19h -recorde desde que vigora a nova restrição a caminhões-, a opção da CET foi se recusar a fornecer dados comparativos com 2007 pelos dois critérios.

Guerra de números
O parâmetro que a CET passou a se negar a divulgar foi usado, por exemplo, em comunicado distribuído à imprensa no dia 28 de julho: "Índice de lentidão cai 49% na primeira manhã de rodízio de caminhões".
Por esse mesmo critério, São Paulo teve uma diminuição de 6% dos congestionamentos na última segunda, 4 de agosto. Mas a empresa se recusou a divulgá-lo, apesar dos pedidos, para exaltar uma comparação mais favorável: queda de 10%.
No dia seguinte, novamente a CET só destacou a fórmula mais conveniente: "Apesar da forte chuva, lentidão no trânsito cai 10%". Pelo outro parâmetro histórico, teria havido piora de 2% dos congestionamentos.
Os dois critérios de análise da situação do trânsito eram divulgados com freqüência pela CET. São eles: a comparação com um único dia equivalente de 2007 (exemplo: 28/07/2008 com 30/07/2007, por serem ambos a última segunda de julho); e a comparação com a média do dia da semana (exemplo: 28/07/2008 com a média das segundas de julho de 2007).
Funcionários da companhia de trânsito dizem que ela omitiu os dados desse segundo parâmetro em alguns dias por terem sido menos favoráveis.
A divulgação é controlada por uma assessoria de imprensa privada, especialista em gestão de imagem, que acompanha todos os passos do secretário dos Transportes e presidente da CET, Alexandre de Moraes.


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