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ANÁLISE
Pressão por mais inclusão deve crescer sobre a universidade
ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Quando bem torturados,
números confessam qualquer coisa. O clichê pode ser
dos mais batidos, mas se
aplica perfeitamente à análise dos resultados do programa de inclusão da USP.
Quem quiser enxergar nos
dados divulgados pela universidade um sucesso incontestável da política de bônus
dirá que, de 2006 a 2010, o
percentual de alunos da rede
pública que passaram no
vestibular da universidade
mais que dobrou, saltando
de 3,6% para 8,2%.
Ou seja, oito em cada cem
estudantes dessas escolas
que se inscreveram no concurso foram aprovados.
Os mesmos números, no
entanto, contam outra história. Eles mostram que, com
exceção do pico registrado
em 2009, a proporção de
oriundos da rede pública em
relação ao total de aprovados
-incluindo aqui também os
alunos da rede privada- está
praticamente congelada em
torno de 25% desde 2001.
A política de inclusão da
USP, por esse critério, foi incapaz de alterar o perfil do ingressante em seus cursos.
Para entender a discrepância entre as duas leituras, é
preciso considerar que houve uma queda brutal (de 69
mil para 33 mil) no total de
inscritos de escolas públicas
entre 2006 e 2010.
Talvez esses estudantes
estejam optando por vestibulares com acesso mais facilitado à rede pública, casos de
Unifesp, UFSCar e UFABC,
que trabalham com cotas, em
vez de apenas dar bônus na
pontuação.
Outros alunos podem estar migrando para instituições privadas com vagas gratuitas no ProUni (programa
federal para facilitar o acesso
ao ensino superior).
Diante desse quadro, tende a crescer a pressão para
que a USP faça mais do que
tem feito para tornar seu vestibular novamente atrativo
aos alunos da rede pública.
A dúvida é até onde a universidade estaria disposta a
ir sem recorrer a medidas pelas quais nunca demonstrou
simpatia, como o estabelecimento de cotas.
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