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São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2003

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PROTESTO ESTUDANTIL

Manifestação reúne menos alunos do que o previsto pelos organizadores; líderes evitam falar em fracasso

Chuva desmobiliza estudantes na Bahia

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Foi um banho de água fria. Cinco horas de chuvas conseguiram o que o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), não conseguira em dez dias: esfriar os protestos dos estudantes contra o aumento da tarifa de ônibus.
Passeata realizada ontem de manhã nas ruas centrais da cidade reuniu cerca de 5.000 estudantes, segundo os organizadores, ou 1.200, na estimativa da polícia. A intenção dos organizadores era juntar de 20 mil a 30 mil manifestantes no centro da cidade.
Em outros quatro pontos de Salvador, esperavam levar mais 12 mil alunos -ou 3.000 em cada. Em dois desses pontos, visitados pela reportagem da Folha, não havia um único aluno.
Apesar da diferença entre expectativa e fato, nenhum dos estudantes que está à frente dos protestos em Salvador falou em fracasso da passeata de ontem.
"Não é um fracasso porque houve a chuva, houve o governo passando um comunicado para as escolas dizendo que não haveria aula hoje [ontem], e os pais viram na TV a polícia batendo nos estudantes e ficaram com medo de deixar seus filhos irem para as ruas", justificou Nestor Neto, 22, estudante do Colégio Central que coordena os grêmios das escolas da região central de Salvador, onde começaram os protestos.
O governo nega a existência do comunicado suspendendo as aulas. Também nega que haja violência contra os estudantes. Depois de apenas acompanhar as passeatas, a polícia passou a agir mais ostensivamente a partir de anteontem, quando dois manifestantes foram presos.
Fiore Trisi, 24, estudante de direito ligado ao PSTU, afirma que seria um equívoco falar de fracasso diante de uma passeata de 5.000 pessoas. "Você não pode esquecer que, quando chove, Salvador fica submersa. O problema de logística é terrível."
O esvaziamento dos protestos vai cedendo lugar à disputa entre grupos organizados, como o PC do B, e os estudantes ditos independentes. O clima entre eles começa a beirar a intolerância.
Nestor Neto, que diz não ser ligado a nenhum grupo e lidera os protestos desde 13 de agosto, incomodava-se com uma bandeira da UNE (União Nacional dos Estudantes) que era carregada no meio da passeata. "Quem deixou aquela bandeira entrar?", perguntava, em tom ríspido.
Só se acalmou quando soube que quem a carregava não era nenhum líder do PC do B. UNE, entre os estudantes baianos é sinônimo de PC do B, que controla a entidade há praticamente 20 anos.
"Eles [do PC do B] encenam que defendem os estudantes, mas estão em conchavo com a prefeitura. Tanto que tentaram desmobilizar os estudantes e foram atropelados pela massa", disse Fiore Trisi, 24, estudante de direito ligado ao PSTU.
Marcelo Brito, vice-presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e militante do PC do B, diz que é "uma irresponsabilidade" fazer acusações como essas contra o partido. "Jamais fazemos conchavo."


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