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PROTESTO ESTUDANTIL
Manifestação reúne menos alunos do que o previsto pelos organizadores; líderes evitam falar em fracasso
Chuva desmobiliza estudantes na Bahia
MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Foi um banho de água fria. Cinco horas de chuvas conseguiram o
que o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), não conseguira em dez dias: esfriar os protestos dos estudantes contra o aumento da tarifa de ônibus.
Passeata realizada ontem de
manhã nas ruas centrais da cidade reuniu cerca de 5.000 estudantes, segundo os organizadores, ou
1.200, na estimativa da polícia. A
intenção dos organizadores era
juntar de 20 mil a 30 mil manifestantes no centro da cidade.
Em outros quatro pontos de
Salvador, esperavam levar mais 12
mil alunos -ou 3.000 em cada.
Em dois desses pontos, visitados
pela reportagem da Folha, não
havia um único aluno.
Apesar da diferença entre expectativa e fato, nenhum dos estudantes que está à frente dos protestos em Salvador falou em fracasso da passeata de ontem.
"Não é um fracasso porque
houve a chuva, houve o governo
passando um comunicado para
as escolas dizendo que não haveria aula hoje [ontem], e os pais viram na TV a polícia batendo nos
estudantes e ficaram com medo
de deixar seus filhos irem para as
ruas", justificou Nestor Neto, 22,
estudante do Colégio Central que
coordena os grêmios das escolas
da região central de Salvador, onde começaram os protestos.
O governo nega a existência do
comunicado suspendendo as aulas. Também nega que haja violência contra os estudantes. Depois de apenas acompanhar as
passeatas, a polícia passou a agir
mais ostensivamente a partir de
anteontem, quando dois manifestantes foram presos.
Fiore Trisi, 24, estudante de direito ligado ao PSTU, afirma que
seria um equívoco falar de fracasso diante de uma passeata de
5.000 pessoas. "Você não pode esquecer que, quando chove, Salvador fica submersa. O problema de
logística é terrível."
O esvaziamento dos protestos
vai cedendo lugar à disputa entre
grupos organizados, como o PC
do B, e os estudantes ditos independentes. O clima entre eles começa a beirar a intolerância.
Nestor Neto, que diz não ser ligado a nenhum grupo e lidera os
protestos desde 13 de agosto, incomodava-se com uma bandeira
da UNE (União Nacional dos Estudantes) que era carregada no
meio da passeata. "Quem deixou
aquela bandeira entrar?", perguntava, em tom ríspido.
Só se acalmou quando soube
que quem a carregava não era nenhum líder do PC do B. UNE, entre os estudantes baianos é sinônimo de PC do B, que controla a entidade há praticamente 20 anos.
"Eles [do PC do B] encenam que
defendem os estudantes, mas estão em conchavo com a prefeitura. Tanto que tentaram desmobilizar os estudantes e foram atropelados pela massa", disse Fiore
Trisi, 24, estudante de direito ligado ao PSTU.
Marcelo Brito, vice-presidente
da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e militante do PC do B, diz que é "uma
irresponsabilidade" fazer acusações como essas contra o partido.
"Jamais fazemos conchavo."
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