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"Desapegadas" doam grifes para bazar de caridade
Roupas e bolsas foram dadas por 20 mulheres; entre as pechinchas, estavam carteiras Louis Vuitton por R$ 100
Fila começou a se formar 2 horas antes de abertura de evento, que fez parte do Fashion Night Out, com lojas abertas até meia-noite
DA REPORTAGEM LOCAL
Sonhos como o do sapato
Chanel próprio, mesmo que já
calçado por outra pessoa, e com
alguma marca de calcanhar na
palmilha, se materializaram
em uma fila de consumidoras
em frente à loja Dior nos Jardins (zona oeste).
A grife promoveu ontem, em
sua garagem dos fundos, um
bazar chamado "Garage Sale",
com renda destinada à ONG católica Aliança da Misericórdia.
As clientes começaram a chegar às 8h da manhã para que, às
10h, fossem as primeiras a vasculhar as araras com roupas de
grifes doadas por 20 mulheres.
Entre as pechinchas, estavam
carteiras Louis Vuitton por
R$ 100, dezenas de vezes menos que uma nova.
A lista de doadores inclui sobrenomes sonoros no PIB brasileiro, como Maria Amélia
Amaro e Maria Ângela Klabin,
além de celebridades como
Adriane Galisteu e Hebe Camargo. Rosângela Lyra, diretora da Dior e organizadora do
evento, cunhou um apelido para o grupo. "Somos as ABCDs,
as Amigas de Bom Coração Desapegadas", diz ela. "É um grande prazer limpar o guarda-roupa e ver que aquilo que você não
usa vai fazer bem para alguém."
Das doações das ABCDs, havia peças que nunca saíram dos
cabides. Ou quase nunca.
"Esse vestido eu usei só uma
vez, em Comandatuba (Bahia),
porque chama muito a atenção", diz Lyra, sobre um longo
Dior vermelho e bordado
no colo. À venda por R$ 1.800,
"custaria uns R$ 15 mil se
fosse novo".
A mesma lógica fez um Valentino longo lilás rendado ser
vendido a R$ 1.200. Sua primeira dona diz ter pago R$ 12 mil
por ele, sete anos atrás. "Só usei
uma vez, em um casamento na
fazenda. Marca muito, não dá
para repetir", diz uma das
"amigas desapegadas", que pediu anonimato.
A empresária e apresentadora Lucilia Diniz, da família dos
donos do Grupo Pão de Açúcar,
doou quatro peças, entre elas
uma jaqueta Dior com espelhinhos. Vendida por R$ 900,
tinha valor estimado em sete
vezes mais.
"Nunca comprei em brechó
porque, graças a Deus, posso só
comprar roupas novas. Mas
adorei ajudar. Essa jaqueta me
deu um prazer enorme de comprar, então quis que outra pessoa tivesse esse mesmo prazer", diz ela, que, apesar do prazer da compra, o usou "pouquíssimas vezes".
Siga aquela bolsa
As rainhas do evento foram
as bolsas, quase todas exterminadas nos primeiros dez minutos de compras pelas 14 pessoas
que estavam na fila. Havia marcas como Louis Vuitton e Prada, a R$ 300, R$ 400.
Às 11h, a administradora de
empresas Denise Grespan, 45,
levava no braço uma bolsa nacional Marcia Rocha, pela qual
pagaria R$ 100. "Gosto de bolsas, mas só tenho umas oito",
diz. "Minhas amigas têm muito
mais." Clientes em volta concordam -muitas têm mais de
dez de marca.
Rosângela Lyra conta que só
tem quatro, todas Dior. Marcela Lima, 23, missionária da
Aliança da Misericórdia que
ajudou nas vendas, só tem uma.
"Mas eu fiz voto de pobreza, é
diferente", afirma. "Vejo as
roupas, acho bonitas, mas não
fico imaginando como ficariam
em mim."
O bazar integrou o evento
Fashion Night Out, em que lojas, a maioria de grifes, ficaram
abertas até a meia-noite, em
sintonia com outras 13 cidades
do mundo. Ao final da noite, a
maioria das 800 peças havia sido vendida. Ainda se faziam as
contas, mas a arrecadação esperada era perto de R$ 160 mil.
(DANIEL BERGAMASCO E FELIPE CARUSO)
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