São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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"Desapegadas" doam grifes para bazar de caridade

Roupas e bolsas foram dadas por 20 mulheres; entre as pechinchas, estavam carteiras Louis Vuitton por R$ 100

Fila começou a se formar 2 horas antes de abertura de evento, que fez parte do Fashion Night Out, com lojas abertas até meia-noite


DA REPORTAGEM LOCAL

Sonhos como o do sapato Chanel próprio, mesmo que já calçado por outra pessoa, e com alguma marca de calcanhar na palmilha, se materializaram em uma fila de consumidoras em frente à loja Dior nos Jardins (zona oeste).
A grife promoveu ontem, em sua garagem dos fundos, um bazar chamado "Garage Sale", com renda destinada à ONG católica Aliança da Misericórdia. As clientes começaram a chegar às 8h da manhã para que, às 10h, fossem as primeiras a vasculhar as araras com roupas de grifes doadas por 20 mulheres. Entre as pechinchas, estavam carteiras Louis Vuitton por R$ 100, dezenas de vezes menos que uma nova.
A lista de doadores inclui sobrenomes sonoros no PIB brasileiro, como Maria Amélia Amaro e Maria Ângela Klabin, além de celebridades como Adriane Galisteu e Hebe Camargo. Rosângela Lyra, diretora da Dior e organizadora do evento, cunhou um apelido para o grupo. "Somos as ABCDs, as Amigas de Bom Coração Desapegadas", diz ela. "É um grande prazer limpar o guarda-roupa e ver que aquilo que você não usa vai fazer bem para alguém."
Das doações das ABCDs, havia peças que nunca saíram dos cabides. Ou quase nunca.
"Esse vestido eu usei só uma vez, em Comandatuba (Bahia), porque chama muito a atenção", diz Lyra, sobre um longo Dior vermelho e bordado no colo. À venda por R$ 1.800, "custaria uns R$ 15 mil se fosse novo".
A mesma lógica fez um Valentino longo lilás rendado ser vendido a R$ 1.200. Sua primeira dona diz ter pago R$ 12 mil por ele, sete anos atrás. "Só usei uma vez, em um casamento na fazenda. Marca muito, não dá para repetir", diz uma das "amigas desapegadas", que pediu anonimato.
A empresária e apresentadora Lucilia Diniz, da família dos donos do Grupo Pão de Açúcar, doou quatro peças, entre elas uma jaqueta Dior com espelhinhos. Vendida por R$ 900, tinha valor estimado em sete vezes mais.
"Nunca comprei em brechó porque, graças a Deus, posso só comprar roupas novas. Mas adorei ajudar. Essa jaqueta me deu um prazer enorme de comprar, então quis que outra pessoa tivesse esse mesmo prazer", diz ela, que, apesar do prazer da compra, o usou "pouquíssimas vezes".

Siga aquela bolsa
As rainhas do evento foram as bolsas, quase todas exterminadas nos primeiros dez minutos de compras pelas 14 pessoas que estavam na fila. Havia marcas como Louis Vuitton e Prada, a R$ 300, R$ 400.
Às 11h, a administradora de empresas Denise Grespan, 45, levava no braço uma bolsa nacional Marcia Rocha, pela qual pagaria R$ 100. "Gosto de bolsas, mas só tenho umas oito", diz. "Minhas amigas têm muito mais." Clientes em volta concordam -muitas têm mais de dez de marca.
Rosângela Lyra conta que só tem quatro, todas Dior. Marcela Lima, 23, missionária da Aliança da Misericórdia que ajudou nas vendas, só tem uma. "Mas eu fiz voto de pobreza, é diferente", afirma. "Vejo as roupas, acho bonitas, mas não fico imaginando como ficariam em mim."
O bazar integrou o evento Fashion Night Out, em que lojas, a maioria de grifes, ficaram abertas até a meia-noite, em sintonia com outras 13 cidades do mundo. Ao final da noite, a maioria das 800 peças havia sido vendida. Ainda se faziam as contas, mas a arrecadação esperada era perto de R$ 160 mil.
(DANIEL BERGAMASCO E FELIPE CARUSO)


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