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Na falta de cadeirinha, criança usa ônibus
Diarista não acha cadeirinha adequada para filha de 5 anos e usa trem e duas conduções para levá-la à escola
Com dificuldades para comprar o assento, ela tem de sair de casa uma hora mais cedo para que a filha não se atrase
FERNANDA BASSETTE
MARCELO JUSTO
DE SÃO PAULO
Eram 6h15 de ontem quando a diarista Elizabeth Oliveira do Nascimento, 44, saiu de
casa, em Guarulhos (Grande
SP), com a filha Maria Eduarda, de cinco anos.
O motivo: levar a menina à
escola, em São Paulo, usando transporte público porque
não encontra a cadeirinha
adequada à idade da criança
para colocar no carro.
Pela lei das cadeirinhas,
em vigor desde o dia 1º deste
mês, Maria Eduarda só pode
ser transportada de carro se
usar o assento de elevação
(no caso de carro com cinto
de três pontos) ou se estiver
presa ao cinto de dois pontos
(veículos anteriores a 1998).
Até pouco tempo atrás, Elizabeth e a menina faziam o
trajeto Guarulhos-São Paulo
de carona com o filho mais
velho da diarista. Saíam de
casa às 7h15 e chegavam à
porta da escola às 7h45.
Com dificuldades para encontrar o equipamento, desde o início do mês Elizabeth
deixou para trás o conforto
do carro para enfrentar a maratona do transporte público.
"Ela [a menina] precisa do
assento de elevação. Eu entro
em sites das principais lojas
todos os dias para tentar
comprar e não encontro. Já
deixei meu telefone nas lojas, mas nunca entram em
contato", diz a mãe.
MARATONA
Para chegar à escola no
mesmo horário, Elizabeth
tem que sair de casa com a filha uma hora antes. Ontem
ela tomou a primeira condução (ônibus) às 6h25.
Chegou à estação ferroviária às 6h40. Só conseguiu
embarcar no terceiro trem, às
6h50. As duas seguiram viagem em pé, espremidas no
meio da multidão.
Ninguém cedeu o lugar para a criança, que não conseguia se mexer. "Às vezes ela
encosta em mim e dorme em
pé", contou a mãe.
Irritada com a demora,
Maria Eduarda ficava perguntando se faltava muito
para chegar. Para distrair a
menina, Elizabeth pede que
ela conte as estações.
Vinte e cinco minutos depois, o trem chega à estação
Tatuapé. Na hora de desembarcar, outra luta. "Muita
gente fica na porta e não desce. A gente tem que ficar gritando", diz Elizabeth.
A viagem não termina aí.
Mãe e filha atravessam a rua
porque ainda dependem de
mais um ônibus que as deixa
na porta da escola -que fica
a cerca de 2 km da estação.
Às 7h22, elas tomam outra
condução e chegam à escola
às 7h32 -uma exceção, diz a
mãe. "Ela tem chegado atrasada à escola quase todos os
dias", diz a mãe.
Elizabeth espera encontrar o assento de elevação o
quanto antes. Se depender
da indústria, ela ainda terá
que esperar 60 dias.
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