São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2010

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Na falta de cadeirinha, criança usa ônibus

Diarista não acha cadeirinha adequada para filha de 5 anos e usa trem e duas conduções para levá-la à escola

Com dificuldades para comprar o assento, ela tem de sair de casa uma hora mais cedo para que a filha não se atrase

FERNANDA BASSETTE
MARCELO JUSTO
DE SÃO PAULO

Eram 6h15 de ontem quando a diarista Elizabeth Oliveira do Nascimento, 44, saiu de casa, em Guarulhos (Grande SP), com a filha Maria Eduarda, de cinco anos.
O motivo: levar a menina à escola, em São Paulo, usando transporte público porque não encontra a cadeirinha adequada à idade da criança para colocar no carro.
Pela lei das cadeirinhas, em vigor desde o dia 1º deste mês, Maria Eduarda só pode ser transportada de carro se usar o assento de elevação (no caso de carro com cinto de três pontos) ou se estiver presa ao cinto de dois pontos (veículos anteriores a 1998).
Até pouco tempo atrás, Elizabeth e a menina faziam o trajeto Guarulhos-São Paulo de carona com o filho mais velho da diarista. Saíam de casa às 7h15 e chegavam à porta da escola às 7h45.
Com dificuldades para encontrar o equipamento, desde o início do mês Elizabeth deixou para trás o conforto do carro para enfrentar a maratona do transporte público.
"Ela [a menina] precisa do assento de elevação. Eu entro em sites das principais lojas todos os dias para tentar comprar e não encontro. Já deixei meu telefone nas lojas, mas nunca entram em contato", diz a mãe.

MARATONA
Para chegar à escola no mesmo horário, Elizabeth tem que sair de casa com a filha uma hora antes. Ontem ela tomou a primeira condução (ônibus) às 6h25.
Chegou à estação ferroviária às 6h40. Só conseguiu embarcar no terceiro trem, às 6h50. As duas seguiram viagem em pé, espremidas no meio da multidão.
Ninguém cedeu o lugar para a criança, que não conseguia se mexer. "Às vezes ela encosta em mim e dorme em pé", contou a mãe.
Irritada com a demora, Maria Eduarda ficava perguntando se faltava muito para chegar. Para distrair a menina, Elizabeth pede que ela conte as estações.
Vinte e cinco minutos depois, o trem chega à estação Tatuapé. Na hora de desembarcar, outra luta. "Muita gente fica na porta e não desce. A gente tem que ficar gritando", diz Elizabeth.
A viagem não termina aí. Mãe e filha atravessam a rua porque ainda dependem de mais um ônibus que as deixa na porta da escola -que fica a cerca de 2 km da estação.
Às 7h22, elas tomam outra condução e chegam à escola às 7h32 -uma exceção, diz a mãe. "Ela tem chegado atrasada à escola quase todos os dias", diz a mãe.
Elizabeth espera encontrar o assento de elevação o quanto antes. Se depender da indústria, ela ainda terá que esperar 60 dias.


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