São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011 |
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ANÁLISE Direito ao aborto e planejamento familiar fazem parte da discussão DEBORA DINIZ ESPECIAL PARA A FOLHA O cordão umbilical denuncia que o parto é recente. A cada semana, um novo caso. São bebês recém-nascidos abandonados por suas mães. Há um ritual que se repete para o abandono: elas enrolam os bebês em um lençol e planejam um local que as proteja na fuga, mas que permita a rápida descoberta do bebê deixado para trás. A rota do abandono é sempre no limiar entre o esconderijo e o palanque. Os bebês são ouvidos ou vistos, socorridos, e começa a cruzada em busca das mulheres. Mas há uma fronteira entre o abandono e o infanticídio. Essas mulheres não querem matar seus filhos recém-nascidos. São mulheres que vivenciam o desespero da maternidade involuntária. O imperativo da maternidade como um destino as impede de oferecer o filho para adoção. Elas preferem o risco do abandono seguido da incerteza sobre o destino do filho a ter de enfrentar a censura moral de ser uma mulher que negou a essência do feminino. DESAFIO Essas mães fogem não apenas do filho, mas do julgamento moral que as descreverá como perversas. É por isso que propostas como a do parto anônimo -arquivada neste ano, na Câmara-ou de reatualização da roda dos expostos são desafiadas pela realidade. A indignação do público diante do bebê abandonado ignora o sofrimento das mulheres que são obrigadas a se manter grávidas contra a sua vontade. Discutir seriamente essa questão é também revisar a política de planejamento familiar em um de seus temas mais delicados, o direito ao aborto. DEBORA DINIZ é antropóloga, professora da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero Texto Anterior: Italianos 'reinventam' a roda dos expostos Próximo Texto: Mortes Índice | Comunicar Erros |
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