São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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CARDÁPIO INDIGESTO

Arroz e feijão perdem espaço para industrializados; melhora de hábitos evitaria 260 mil mortes/ano, diz governo

Alimentação do brasileiro piora em 30 anos

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A alimentação do brasileiro piorou nos últimos 30 anos. Alimentos fundamentais para uma dieta saudável e rica em nutrientes -como arroz e feijão- estão cada vez menos presentes no cardápio da população. Por outro lado, o consumo de produtos industrializados e com poucos nutrientes apresentou um aumento de 82% no mesmo período.
Segundo o Ministério da Saúde, a má qualidade da dieta está diretamente associada aos riscos de a pessoa desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis, como o diabetes, obesidade e problemas no coração.
Ainda segundo o ministério, essas doenças estão relacionadas às causas mais comuns de morte registradas atualmente. O governo calcula que cerca de 260 mil mortes poderiam ser evitadas todos os anos caso o brasileiro mantivesse uma alimentação saudável.
Para melhorar a dieta da população, o governo federal divulgou os dados do "Guia Alimentar da População Brasileira", que contém as primeiras diretrizes nutricionais oficiais do país.
"O objetivo é evitar que as pessoas adoeçam por causa da má alimentação. E, para isso, precisamos compor políticas públicas de alimentação e incentivar uma dieta adequada", diz Maria de Fátima Carvalho, consultora técnica da Coordenação Geral da Política de Alimentos e Nutrição do Ministério da Saúde.

Arroz e feijão
Comidas típicas do Brasil, o arroz e o feijão estão cada vez menos freqüentes nos pratos da população. O consumo do feijão per capita caiu 31% nos últimos 30 anos. Como se não bastasse a queda, a tendência ainda é de diminuição.
"O arroz e o feijão estão perdendo a importância na alimentação diária da população. A gente quer reverter essa situação porque esses alimentos existem em abundância no país e são importantes na nutrição", diz Maria de Fátima.
Segundo a nutricionista Renata Maria Padovani, pesquisadora no Nepa (Núcleo de Estudos de Pesquisa em Alimentação) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o hábito de comer arroz e feijão deve ser mantido.
"É um prato extremamente rico. Eles têm proteínas complementares. E o feijão ainda é rico em ferro. Esse é um hábito que sempre existiu e que sempre foi muito saudável", afirma a nutricionista.
Outro fator que caracteriza o desequilíbrio nutricional do brasileiro é a queda na ingestão de verduras, legumes e peixes.
Segundo o guia alimentar, a quantidade de "verde" que consumimos caiu 19,3%. A ingestão de peixes foi reduzida pela metade, apesar de o Brasil ser rico na produção de pescados.
"O peixe é fundamental para uma dieta saudável porque é rico em ômega 3, que diminui o colesterol ruim (LDL) e aumenta o colesterol bom (HDL) no organismo", alertou o médico nutrólogo Edson Credídio, diretor da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). O ideal, segundo Credídio, seria consumir peixe pelo menos duas vezes por semana.

Carnes, leite e ovos
Os dados do guia alimentar mostram também uma tendência crescente no consumo de carnes e leite. A exceção ficou para os ovos, que registraram uma queda de 84% no período.
"Os ovos sempre foram vistos como vilões, por estarem associados ao aumento do colesterol, mas pesquisas mostram que eles têm outros nutrientes que são importantes para a saúde", afirmou Maria de Fátima.
O consumo de carnes aumentou 46% e é visto positivamente pelos nutricionistas. "A carne é rica em ferro, zinco e proteínas" diz Credídio. A recomendação é evitar as gordurosas, pois elevam os riscos de doenças no coração.
Segundo Renata, o aumento do consumo de leite é positivo. Mesmo assim, não atinge a quantidade recomendada pelos nutricionistas. "A ingestão de cálcio do brasileiro é baixa. E diminui conforme a renda cai", afirma.


Colaborou SIMONE HARNIK, da Reportagem Local

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