São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Motorista estava a 130 km/h, diz polícia

Caminhão trafegava em alta velocidade ao furar bloqueio; a um PM, Rosinei Ferrari disse estar "em choque" e não falou sobre acidente

Entre mortos no 2º acidente estão passageiros que esperavam resgate quando carros atingidos pelo caminhão caíram sobre eles

Jorge Hajdasz/Agência RBS
Vítima de acidente é socorrida em SC; 27 pessoas morreram


SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CHAPECÓ

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

O caminhão que provocou o segundo acidente na BR-282 trafegava na contramão para evitar o congestionamento e passou pelo bloqueio a 130 km/h, segundo a polícia. A ação resultou em 20 mortes. O bloqueio havia sido feito justamente para o resgate das vítimas do primeiro acidente, em que sete pessoas morreram anteontem em Descanso (SC).
O motorista Rosinei Ferrari, 28, foi autuado em flagrante por homicídio doloso (com intenção de matar). Ele teve sua prisão preventiva decretada -que deverá ser cumprida quando receber alta do hospital onde está internado.
O primeiro acidente ocorreu por volta das 19h30, no km 630. Um caminhão Volvo, carregado de soja, trafegava pela rodovia no sentido São Miguel d'Oeste-Chapecó quando tentou ultrapassar um caminhão Scania em uma curva. Depois de raspar a lateral do veículo, o Volvo bateu de frente com um ônibus que vinha no sentido contrário.
O ônibus, da WRTur, transportava 45 pessoas para São José do Cedro. Os dois veículos caíram em uma ribanceira, de uma altura de 30 metros.
Equipes do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal chegaram ao local para fazer o resgate. Os dois sentidos da pista foram interditados.
Sete pessoas morreram -o motorista do ônibus e dois passageiros e a família do motorista da carreta. Segundo a PRF, Marco Aurélio Matthes, 39, levava a mulher, de 38 anos, e os dois filhos, de quatro e dois anos, na cabine do veículo.

Sinalização
Uma hora e meia depois da batida, um caminhão Mercedes-Benz, de Cascavel (PR), ignorou a sinalização na pista (montada a pelo menos oito quilômetros do desastre).
Ao chegar no ponto onde começava o congestionamento, a quase dois quilômetros da primeira batida, o motorista Rosinei Ferrari entrou pela contramão, desviando da fila de carros na sua pista. Ao chegar ao local do acidente, Ferrari atingiu dez carros e atropelou dezenas de pessoas. Depois, a carreta tombou. 20 pessoas morreram neste acidente.
"Não se sabe porque ele saiu da sua pista. Uma hipótese é que tenha desviado para não bater nos carros no congestionamento e tenha continuado em alta velocidade porque perdeu o freio", diz o policial Adriano Fiamoncini.
Segundo a Secretaria da Segurança, o tacógrafo da carreta, analisado em Florianópolis, mostra que ele estava a 130 km/h ao invadir o bloqueio. A velocidade máxima no local para caminhões é de 80 km/h.
Segundo a PRF, entre os mortos no segundo acidente estão passageiros do ônibus que não haviam morrido no primeiro. Eles estavam no ônibus, aguardando resgate, quando carros atingidos pelo caminhão caíram sobre o veículo.
Levantamento preliminar mostra que oito passageiros do ônibus morreram -três no primeiro acidente e cinco, no segundo. Também morreram cinco bombeiros, um policial militar, três jornalistas, o motorista do Scania ultrapassado pelo Volvo e pessoas que observavam o trabalho de resgate.
Havia 60 militares trabalhando no local. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), decretou luto oficial. "Os maiores culpados são os motoristas dos caminhões que foram imprudentes e negligentes", disse o governador.

Risco
O delegado Rodrigo Barbosa, da cidade de Maravilha, autuou Rosinei Ferrari pois ele "assumiu o risco de matar ao trafegar pela contramão e por atravessar o bloqueio da Polícia Rodoviária Federal".
Ferrari ficou ferido e foi levado para o hospital, onde está sob escolta de cinco PMs. Assim que receber alta médica, será levado para a Cadeia Pública de Descanso.
À noite, o motorista disse a um PM que estava "com tonturas, psicologicamente abalado e em estado de choque e que, por isso, não ia falar sobre o acidente". A reportagem não conseguiu entrar em contato com a família de Rosinei. O hospital afirmou que ele se feriu na cabeça e nos braços. Segundo a PRF, Ferrari é natural de Cascavel (PR), casado e não tem filhos. Se for condenado, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.


Colaboraram MARTHA ALVES e EDEVAL JÚNIOR , da Agência Folha


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