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Guardas e câmeras substituem bedéis
DA REPORTAGEM LOCAL
A expressão "guarda de muralha" está ganhando outro significado. Do vocabulário penitenciário, saltou, nos últimos 12 meses,
para a linguagem escolar.
Nas mais tradicionais escolas
paulistanas, onde estudam crianças de classe média e média-alta, a
onda de violência aposentou os
bedéis e colocou em cena, junto
com os guardas, as câmeras de vídeo, os inspetores com walkie-talkie, as catracas eletrônicas e os
aparelhos de rastreamento de dezenas de ônibus escolares.
Juntos, seguranças e equipamentos já consomem, a cada mês,
de 6% a 10% do orçamento das
instituições. Há três anos, a rubrica nem existia em muitas delas.
"No último ano, acrescentamos
duas câmeras internas, duas externas e um sistema de rastreamento e de câmeras nos 34 ônibus
do colégio, além de filmes que, colocados nos vidros, impedem que
eventuais estilhaços atinjam os
alunos", diz Fernando Homem de
Montes, 37, responsável pelo Departamento de Comunicação e
Eventos do Colégio Dante Alighieri, tradicional instituição,
com cerca de 4.500 alunos.
O Dante, que tem hoje 72 câmeras, cem vigias e 12 seguranças externos, ainda planeja instalar, nos
próximos meses, catracas eletrônicas para controlar o acesso a sua
unidade. Para os alunos, circulares recomendam que andem em
grupo ao deixar a escola ou ao
chegar a ela e que não permaneçam nas redondezas do colégio
após o horário previsto.
A preocupação tem motivos
concretos. Além de assaltos, os
dados da polícia indicam que os
horários de entrada e saída da escola são os mais perigosos para as
crianças. O motivo é simples: a
constância desses horários. Este
ano, na região metropolitana, dez
crianças foram sequestradas.
Quatro delas estavam em carros
particulares, com suas mães.
No Colégio São Luís, instituição
com mais de cem anos que, como
o Dante, fica na região da Paulista,
os alunos agora podem deixar o
colégio sem os uniformes.
"Foi uma demanda dos pais,
que não achamos ruim. A exclusão social faz com que o indivíduo
se torne raivoso e se volte contra
alguns ícones de poder aquisitivo:
o carro, o colégio particular, o
uniforme", diz o padre Guy Ruffier, 70, reitor da instituição.
No São Luís, onde estudam cerca de 2.900 pessoas, as seis portas
de acesso já não funcionam mais.
Para controlar as pessoas que entram e saem do prédio, hoje apenas duas permanecem abertas.
"Um cuidado que temos é pedir
que os vigias acompanhem qualquer criança que se afaste da escola em horário indevido", diz dom
Geraldo Gonzalez y Lima, 41, vice-reitor do Colégio Santo Américo, no Morumbi. O colégio, que
também tem câmeras internas e
externas, não divulga quantos são
seus guardas de muralha.
Segurança privada
As escolas são apenas um exemplo do crescimento da segurança
privada no último ano. O setor de
segurança patrimonial teve um
aumento de 20% na carteira de
clientes, segundo estimativa da
Siemens Security, uma das empresas que prestam serviços para
dezenas dessas escolas da cidade.
Para o rastreamento de carros, o
impacto foi ainda maior: os negócios do setor dobraram em comparação ao ano passado.
A novidade nos próximos meses deve ser o rastreamento pessoal. A central desse serviço deve
ser montada pela empresa de segurança Focus em janeiro. Por
um pequeno dispositivo -pode
ser escondido em chaveiros-, as
pessoas poderão ter seus movimentos acompanhados por seguranças na tela da central.
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