São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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Guardas e câmeras substituem bedéis

DA REPORTAGEM LOCAL

A expressão "guarda de muralha" está ganhando outro significado. Do vocabulário penitenciário, saltou, nos últimos 12 meses, para a linguagem escolar.
Nas mais tradicionais escolas paulistanas, onde estudam crianças de classe média e média-alta, a onda de violência aposentou os bedéis e colocou em cena, junto com os guardas, as câmeras de vídeo, os inspetores com walkie-talkie, as catracas eletrônicas e os aparelhos de rastreamento de dezenas de ônibus escolares.
Juntos, seguranças e equipamentos já consomem, a cada mês, de 6% a 10% do orçamento das instituições. Há três anos, a rubrica nem existia em muitas delas.
"No último ano, acrescentamos duas câmeras internas, duas externas e um sistema de rastreamento e de câmeras nos 34 ônibus do colégio, além de filmes que, colocados nos vidros, impedem que eventuais estilhaços atinjam os alunos", diz Fernando Homem de Montes, 37, responsável pelo Departamento de Comunicação e Eventos do Colégio Dante Alighieri, tradicional instituição, com cerca de 4.500 alunos.
O Dante, que tem hoje 72 câmeras, cem vigias e 12 seguranças externos, ainda planeja instalar, nos próximos meses, catracas eletrônicas para controlar o acesso a sua unidade. Para os alunos, circulares recomendam que andem em grupo ao deixar a escola ou ao chegar a ela e que não permaneçam nas redondezas do colégio após o horário previsto.
A preocupação tem motivos concretos. Além de assaltos, os dados da polícia indicam que os horários de entrada e saída da escola são os mais perigosos para as crianças. O motivo é simples: a constância desses horários. Este ano, na região metropolitana, dez crianças foram sequestradas. Quatro delas estavam em carros particulares, com suas mães.
No Colégio São Luís, instituição com mais de cem anos que, como o Dante, fica na região da Paulista, os alunos agora podem deixar o colégio sem os uniformes.
"Foi uma demanda dos pais, que não achamos ruim. A exclusão social faz com que o indivíduo se torne raivoso e se volte contra alguns ícones de poder aquisitivo: o carro, o colégio particular, o uniforme", diz o padre Guy Ruffier, 70, reitor da instituição.
No São Luís, onde estudam cerca de 2.900 pessoas, as seis portas de acesso já não funcionam mais. Para controlar as pessoas que entram e saem do prédio, hoje apenas duas permanecem abertas.
"Um cuidado que temos é pedir que os vigias acompanhem qualquer criança que se afaste da escola em horário indevido", diz dom Geraldo Gonzalez y Lima, 41, vice-reitor do Colégio Santo Américo, no Morumbi. O colégio, que também tem câmeras internas e externas, não divulga quantos são seus guardas de muralha.

Segurança privada
As escolas são apenas um exemplo do crescimento da segurança privada no último ano. O setor de segurança patrimonial teve um aumento de 20% na carteira de clientes, segundo estimativa da Siemens Security, uma das empresas que prestam serviços para dezenas dessas escolas da cidade.
Para o rastreamento de carros, o impacto foi ainda maior: os negócios do setor dobraram em comparação ao ano passado.
A novidade nos próximos meses deve ser o rastreamento pessoal. A central desse serviço deve ser montada pela empresa de segurança Focus em janeiro. Por um pequeno dispositivo -pode ser escondido em chaveiros-, as pessoas poderão ter seus movimentos acompanhados por seguranças na tela da central.



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