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Ala de não-fumante é tão poluída quanto a de fumante
Reportagem mediu poluentes em dez restaurantes e bares da capital paulista
Nível de poluição ficou acima da média que é recomendada pela OMS em todos os locais visitados pela Folha, nos dois setores
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Você escolhe a área de não
fumantes. Mesmo assim, respira vez ou outra a fumaça de cigarro enquanto come e bebe.
Quando sai do restaurante,
percebe que a roupa, a pele e o
cabelo estão levemente (ou, dependendo do caso, absurdamente) "defumados".
Essa é uma situação comum
para quem costuma jantar fora.
A divisão entre fumantes e não-fumantes na maioria dos lugares é inócua. Levantamento feito pela Folha em dez estabelecimentos da capital paulista
mostra que, em geral, a poluição é elevada nos dois setores e
a concentração de poluente
não é muito mais baixa onde
não se fuma. A medição foi realizada com um equipamento
portátil do LPAE (Laboratório
de Poluição Atmosférica Experimental), da Faculdade de Medicina da USP.
O aparelho mede material
particulado fino -mistura de
fumaça e poeira. Em exposições de curta duração ao poluente, caso da visita a um restaurante, os efeitos podem ser
cansaço, tosse seca, irritação
nos olhos e nariz.
O restaurante Ritz, em Cerqueira César (zona oeste), teve
pico de 170 microgramas por
m3 de material particulado fino
na área dos que gostam de cigarro -várias pessoas fumavam no local, que é pequeno.
Na área de não-fumantes, o valor chegou a 89. No bar mexicano El Kabong, em Pinheiros, a
diferença foi de 79 (fumantes)
para 48 (não-fumantes).
Em restaurantes como Almanara, América e Spot, a diferença na concentração de poluição foi mínima ao comparar
as áreas de fumante e não-fumante -em microgramas por
m3 de material particulado fino, 70x65; 78x70 e 80x76, respectivamente. A média recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é 10 microgramas por m3, e a que temos na capital hoje é 30.
Tanto no Ritz quanto no El
Kabong, os não-fumantes ficam no piso superior. "Nesse
caso, a fumaça do andar inferior sobe e atinge os não-fumantes", diz Paulo Afonso de
André, engenheiro do LPAE.
Por mais estranho que possa
parecer, no Mestiço, o setor de
não-fumantes -principalmente o fundo do salão- estava
mais poluído. Isso ocorre porque a área tem menor circulação e renovação de ar.
Para o médico Paulo Saldiva,
do LPAE, "como o ar não tem
fronteiras", é esperado que não
haja grande diferença na concentração da poluição nos dois
setores dos estabelecimentos.
Luizemir Lago, coordenadora estadual do programa de
controle de tabagismo da Secretaria da Saúde, concorda.
"Não funciona permitir que
num lado do salão se fume e no
outro não. A fumaça não fica
restrita a um lugar." Essa situação é exatamente a que se vê no
restaurante Spot. Nas mesas
localizadas no lado direito de
quem entra no estabelecimento não se pode fumar. Já no lado direito, ocorre o oposto.
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