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ANÁLISE
Lula administra empurra-empurra
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Vendaval, raios e árvores
caindo no Paraná, pane na linha de transmissão de Furnas,
queda automática de 100% do
sistema de Itaipu. E boa parte
do país, principalmente o nevrálgico Sudeste, fica às escuras
durante horas, a partir das
22h13. Nem o Paraguai escapa.
Nada como um episódio assim, seja ele uma fatalidade,
uma fragilidade do sistema ou
até uma improvável sabotagem, para nos lembrar a todos o
quanto a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está
longe. Um ano é prazo suficiente para muita coisa. E qualquer
coisa pode se refletir no desfecho de uma eleição assim. Precedentes há aos montes.
Foi certamente pela gravidade da situação, mas também
pelos riscos políticos, que Lula
entrou pessoalmente na operação de coleta de informações
ontem, ligando diretamente
para o presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek.
Lula queria saber tudo, como
foi, onde foi, o que foi atingido,
quando seria restabelecida a
normalidade. Enquanto isso, as
TVs transmitiam ao vivo as
imagens de São Paulo, o centro
político e econômico do país,
completamente parado, com filas quilométricas de faróis brilhando na escuridão. No Rio, o
pavor de sempre: o de assaltos.
O primeiro lugar a restabelecer a energia foi o Paraguai, animando o pessoal de Itaipu. A
volta da energia e o entusiasmo,
porém, não repetiram o efeito
cascata da queda. Cair o sistema foi fácil. Recuperar a normalidade, não tanto. E ninguém entendia exatamente por
que a operação de reserva, inclusive com as termelétricas,
não funcionou.
Começou, então, o inevitável:
o empurra-empurra. Na primeira versão, Furnas jogava a
culpa para Itaipu. Logo, Itaipu
passou a dizer, especialmente
para o presidente, que a crise
não era de geração; era de
transmissão. Ou seja: era de
Furnas. E o governo de São
Paulo, claro, tratou de se isentar de responsabilidade, mas
dizendo que fazia tudo o que
"estava a seu alcance".
Apagões não são novidade,
mas o que começou ontem foi o
mais grave e justamente na
área de origem e de domínio da
ministra Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia,
atual chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à Presidência.
Na expressão de Itaipu, as
turbinas "rodavam no vazio",
sem ter onde entregar energia.
Mas, em Brasília, certamente
Lula, Dilma e a turma da política e do marketing já atuavam a
cheio, a mil. Afinal, alguém vai
ter que levar a culpa.
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