São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

Próximo Texto | Índice

MUDANÇA DE RUMO

Universidades, emprego e noite agitada impulsionam o bairro, que ainda é visto como área degradada

Barra Funda renovada quer quebrar estigma

João Wainer/Folha Imagem
Público na casa noturna D-Edge, na Barra Funda (zona oeste de SP), um dos pontos que ajudam a impulsionar as mudanças no bairro


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Perder-se nas ruas da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, pode levar a duas realidades distintas. A rua pode acabar num previsível galpão abandonado, resquício do passado industrial, ou levar a uma nova paisagem, onde estão baladas, universidades e escritórios. Se o visitante precisa descobrir em qual dessas direções irá, essa também é, num sentido mais abstrato, a questão pela qual o bairro passa neste momento.
Casas noturnas, novos campi universitários, prédios de escritórios e, principalmente, o aumento do interesse pela vida na região são o motor das mudanças que fazem a Barra Funda se revigorar e traçar o passo que pode redefini-la: a chegada de novos moradores.
"Ela estava quieta, mas algumas empresas começaram a se instalar e a região voltou a chamar a atenção do mercado. Consolidada essa primeira onda, a segunda ocorre mais rápido, quando começa a ser uma necessidade e surgem bares, lojas, clínicas", avalia Thomaz Assumpção, presidente da consultoria Urban Systems Brasil.
"A Barra Funda vai mudar inevitavelmente, não tem outra saída", diz o urbanista Bruno Padovano, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que cita a grande oferta de terrenos baratos, a infra-estrutura instalada e a facilidade de acesso da região.
As ruas calmas e a proximidade do centro atraem moradores como a modelo Piera Ranieri, 38. É no bairro que ela e a filha passeiam com o cachorro, fazem compras na feira e levam uma vida "tipo de interior", como ela define. Piera, que era "a cara" da revista "Capricho" nos anos 80 e foi capa da "Playboy", passou a infância no bairro. Após viver 17 anos na Europa, decidiu que queria viver ali. "É maravilhoso."

Entraves
Nem todos estão certos de que a Barra Funda "agora vai". "Diria que pode mudar, mas que esse processo ainda não está consolidado", diz João d'Avila, da consultoria Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações. "A região tem enchentes, a ferrovia e o Minhocão, fatores negativos", diz, acrescentando o preconceito à lista.
O desenvolvimento do bairro gerou expectativa no início dos anos 90, quando o shopping West Plaza estava quase pronto e as obras do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa começavam. A interrupção da obra após acusações de desvio de verba do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto frustrou o mercado, que faria serviços ligados ao fórum, diz d'Avila.
Para Assumpção, da Urban Systems, a situação econômica do país e uma queda geral da construção civil travaram a mudança.
Já Débora Morilha, da consultoria Jones Lang LaSalle, acha que "a tentativa de desenvolvimento da Barra Funda nos anos 90 competia de forma muito direta com a Faria Lima. Talvez as empresas não tenham achado interessante ir para lá quando os concorrentes e clientes estão em outra região".
A abertura do fórum em 2004 é apontada como fator para a transformação do distrito. Dez mil pessoas passam por dia pelo local. "Quem vai sempre ao bairro vê que ele não corresponde à imagem ruim que existe", diz d'Avila.
Duas torres de escritórios começaram a ser erguidas no entorno do fórum. O Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) tem pronto um projeto para instalar sua nova sede na frente do TRT. A Unimed Paulistana deve iniciar em 2006 a obra de um hospital na área.


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.