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Homem que entrou no rio Pinheiros para salvar criança volta ao trabalho
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Pela primeira vez em 27
anos, Adriano Levandoski de
Miranda, que entrou no rio
Pinheiros no sábado para salvar uma criança de três anos,
foi presenteado pela mãe. Ele
ganhou um par de sapatos
pretos, em homenagem ao
seu aniversário, comemorado
também anteontem. Adriano,
que rejeita qualquer rótulo de
herói ou bom samaritano, fez
exames de saúde e voltou ao
trabalho ontem.
A mãe de Miranda, Bárbara, 66, jura que comprou o
presente do filho antes de saber que ele tinha furtado uma
moto para salvar uma criança
que estava com a mãe que se
jogou no rio. O menino passa
bem e já está em casa com o
pai, mas a mãe fraturou uma
vértebra e continuava internada até ontem à noite.
Segundo Bárbara, Miranda
sempre foi muito generoso,
desde os quatro anos de idade. "Ele parava de jogar bola
com as crianças da rua para
carregar sacolas das pessoas
de idade", lembra.
Apesar da repercussão da
notícia, Miranda diz que não
sofreu nenhum tipo de assédio. "Ninguém me reconheceu ou me parou na rua. Nem
faço questão que isso ocorra",
afirma. "Fiz o que fiz pela
criança. Pensei no meu filho,
Matheus, de dois anos."
Enquanto retira da carteira
a foto 3x4 do menino de três
anos que salvou anteontem,
Miranda explica que a fotografia foi um presente do pai
da criança. "Vai ficar comigo
para sempre", diz. No verso,
ele escreveu a data do salvamento e o nome do garoto.
Acompanhado pelo chefe
de trabalho, o analista de sistemas fez exames de sangue e
raio-X do pulmão, além de uma
análise médica, ontem à tarde,
no Hospital Nove de Julho. Depois, voou para o Rio de Janeiro,
a trabalho. "Estou bem. Passei
pelo médico só por precaução."
Ele diz que perdeu as contas
de quantas vezes teve que contar e recontar sua façanha e dos
telefonemas que recebeu de
amigos e familiares em apoio.
No sábado à noite, havia motivos de sobra para comemorar,
mas Miranda passou o aniversário como sempre, sem festa nem
bolo. Preferiu jantar com a mulher e um casal de cunhados,
num restaurante perto de sua
casa, em Embu (Grande SP).
Miranda é filho de uma família simples. Gaúcha de Erechim,
Bárbara, a mãe, é copeira e faxineira, casada há 31 anos com o
mineiro Deusedim, 59, churrasqueiro e garçom. Além do analista de sistema, o casal tem outro filho, André, 29, que mora no
Sul. "Apesar de mais reservado e
calmo que Adriano, André faria
a mesma coisa que o irmão fez."
Bárbara diz que a família enfrentou dificuldades financeiras
quando os filhos eram crianças.
"Não tínhamos condições nem
de comprar doces ou frutas para
eles", conta, emocionada. "Mas
meus filhos não seguiram o caminho errado. Eles sempre tiveram uma boa índole. Ontem
(anteontem), o Adriano me deu
um coração novo", diz, rindo.
"Nem no dia do meu casamento
ou na data em que meus filhos
nasceram eu me senti tão feliz."
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