São Paulo, terça-feira, 11 de dezembro de 2007

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Depois do tremor, Caraíbas vira um vilarejo-fantasma

Apenas 3 famílias restavam no local, à espera de auxílio para resgatar seus pertences

Local foi atingido por um tremor de terra que atingiu 4,9 pontos na escala Richter e deixou uma menina morta e seis pessoas feridas

Rodrigo Clemente/"O Tempo"/Folha Imagem
Vista aérea da comunidade rural de Caraíbas, em Itacarambi, arrasada no domingo após tremor


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITACARAMBI (MG)

O vilarejo de Caraíbas, em Itacarambi (662 km de Belo Horizonte), se transformou em uma comunidade-fantasma. Atingida anteontem por um tremor de 4,9 pontos na escala Richter, ela estava deserta na tarde de ontem.
Apenas três famílias ainda aguardavam, do lado de fora das casas, o caminhão da prefeitura para encaminhar a mudança para o centro da cidade.
Fora elas, já não havia mais ninguém na comunidade para contar sobre o ocorrido. Uma menina de 5 anos, Jesiane Oliveira da Silva, morreu ao ser atingida por uma parede que desabou sobre sua cama durante os cerca de 15 segundos que durou o tremor. Outras seis pessoas ficaram feridas.
Os moradores foram levados a creches, transformadas em abrigos, no centro do município. Eles já não querem, nem podem, mais voltar para o lugar. Seis casas foram totalmente destruídas e outras 75 casas foram danificadas.
Na comunidade não há mais luz. A energia foi cortada. Depois que as últimas famílias conseguirem deixar o local levando o que sobrou de seus pertences, só restarão em Caraíbas os animais. Ontem, cachorros, cavalos, gatos e galinhas compunham o cenário de desolação deixado para trás pelos cerca de 350 moradores da vila rural.
O governo do Estado de Minas Gerais afirmou que irá reconstruir o vilarejo em um outro local (leia texto abaixo). Ontem, 43 homens do governo mineiro ainda trabalhavam para tentar recuperar objetos das famílias do local. Eles contavam com o apoio de ao menos 17 carros e caminhões, além de dois helicópteros.
A única venda do local, antigo ponto de referência e de encontro dos moradores, já estava esvaziada e fechada depois da partida dos moradores.
As famílias ainda dependem de uma decisão da Prefeitura de Itacarambi, que doará os terrenos para que o governo estadual construa as novas casas para a população desabrigada.

Prejuízos
Andar pela estreita estrada de terra que circunda e corta a comunidade de Caraíbas dá a dimensão do prejuízo que as pessoas que ali viviam tiveram em razão do tremor.
Em quase todos os pequenos lotes, de cerca de um hectare cada, percebem-se as recentes plantações de feijão e milho, após meses de seca na região do extremo norte mineiro.
A chuva dos últimos dias deu apenas alguns momentos de alívio aos moradores, dependentes da roça.
O cenário de destruição concentra-se principalmente nas seis casas totalmente destruídas pelo tremor da terra. Nas demais construções, há trincas e rachaduras externas.
Há também pedaços de tijolos no chão. Em um galpão, que sempre foi usado pela comunidade para encontros e festejos, pedaços do telhado caíram.
O tremor que destruiu as casas não deixou outros sinais, pelo menos que fossem perceptíveis à primeira vista. Não há, por exemplo, buracos nem rachaduras no solo.
A fragilidade das casas ali construídas é uma das explicações para o fato de todas as moradias de Caraíbas terem tido algum problema com o tremor. Há casas de alvenaria, mas também existem construções feitas por adobe (pau e barro). E, mesmo nas casas de alvenaria, as construções não foram feitas com vergalhões -material de sustentação de vigas e colunas.
O tremor de domingo, fato que surpreendeu até os geólogos da UnB (Universidade de Brasília), levou a Defesa Civil de Minas Gerais a considerar o lugar como área de risco.


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