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Corte emperra programa
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
O salto quádruplo no crescimento dos casos de dengue no
país acontece no momento em
que o país poderia estar comemorando o início da erradicação da doença.
"A decisão de erradicar a
dengue era uma proposta de
governo do presidente Fernando Henrique", disse ontem o
ex-ministro Adib Jatene. O
compromisso, segundo Jatene,
foi assumido numa reunião em
meados de 1996 com a participação de nove outros ministros. No encontro foi constituída uma comissão executiva para a erradicação da dengue.
Em março de 1997, cerca de
2.000 municípios deveriam estar se integrando numa ampla
campanha preparada nos dois
anos anteriores.
A saída de Jatene e os cortes
nas verbas da Saúde emperraram o projeto. Até agosto do
ano passado, apenas R$ 25,9
milhões de um total orçado de
R$ 206 milhões tinham sido
gastos nos programas de combate à dengue em 1997.
"Sem uma fonte de fluxo
contínuo, era mesmo impossível levar um programa que
previa grandes investimentos
em saneamento", diz Jatene,
que deixou o ministério em novembro de 1996.
A proposta de erradicar a
doença reduziu-se então a um
simples controle. "O que tenho visto é uma ação de bombeiro, um simples combate ao
mosquito a cada vez que aparece", diz a médica sanitarista
Fabíola Aguiar Nunes. Em dois
anos como coordenadora do
Conselho Nacional de Saúde
(CNS), Fabíola conseguiu que
o Brasil assumisse uma proposta de erradicação e que a
mesma política fosse adotada
pela Organização Panamericana da Saúde (Opas) para todo o
continente. "Conseguimos o
que até então parecia impossível", diz a médica. "O que me
revolta é que o Brasil deixou de
lado um programa quando tinha as condições de executá-lo
e de se colocar como líder."
Segundo Jatene, o Brasil,
"que saiu na frente como modelo para o continente, está
com a ação comprometida."
Ele afirma que a dengue estava entre as três preocupações
que o levaram a pedir a criação
da CPMF (Contribuição Financeira sobre Movimentação Financeira). As outras eram a
mortalidade infantil e a malária. "A mortalidade infantil
continua caindo e o controle da
malária vem dando resultados", diz. "Mas a dengue precisava de um volume de recursos que acabou não vindo."
Segundo Jatene, em valores
reais, a Saúde recebeu em 97
menos do que 95, apesar da receita da CPMF.
Mario Cesar Scheffer, do
Conselho Nacional de Saúde,
diz que o programa de combate
à dengue sofreu mais com a paralisia das instituições do que
com a falta de dinheiro. "O dinheiro estava disponível, mas
não se criou mecanismos para
repassá-lo aos Estados e municípios", afirma.
Outro problema -segundo
Scheffer- foram as mudanças
ocorridas no próprio ministério. "O programa, que antes
gozava de status especial dentro do ministério, foi igualado
a outros dentro da Secretaria
de Programas Especiais. Também ocorreu a saída de técnicos importantes na área de
combate ao dengue."
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