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ADMINISTRAÇÃO
Relatório de comissão interna põe sob suspeita gastos de R$ 1,26 bilhão com coleta e varrição desde 95
Relatório da prefeitura aponta fraudes no lixo e responsabiliza 8 secretários
Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
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Lixo do Pacaembu é recolhido por funcionários da Vega, uma das 4 empreiteiras que atuam em SP |
MARIO CESAR CARVALHO
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Uma comissão criada pela própria Prefeitura de São Paulo
aponta irregularidades nos gastos
de R$ 1,26 bilhão relativos aos serviços de coleta e varrição de lixo
pagos pelo município nos últimos
cinco anos e responsabiliza oito
secretários municipais.
A comissão -formada por assessores jurídicos das secretarias
das Finanças, Negócios Jurídicos
e Administrações Regionais-
sugere que a prefeitura processe
todos os secretários que passaram
pelas pastas de Serviços e Obras e
das Administrações Regionais
desde 95 para recuperar o dinheiro. Nos dois primeiros anos analisados, Paulo Maluf (PPB) era o
prefeito. Nos três seguintes, Celso
Pitta (PTN) ocupava o cargo.
O representante da Secretaria
de Serviços e Obras na comissão
recusou-se a assinar o relatório final (leia ao lado). A divergência
será analisada pelo secretário dos
Negócios Jurídicos, Edvaldo Brito, que determinará o destino do
relatório. Ele pode arquivá-lo, instaurar um inquérito, pedir novos
esclarecimentos à comissão, optar por advertências a funcionários e suspensão de contratos.
O texto da comissão não aponta
valores, mas põe sob suspeita todo o gasto com coleta e varrição,
afirmando que não há registros de
fiscalização que permitam afirmar qual a porcentagem do serviço pago foi realmente executada.
Segundo ações movidas pelo
Ministério Público a partir das
mesmas constatações, o valor
consumido pelas irregularidades
chega a R$ 717,2 milhões -60%
do gasto com o serviço.
O dinheiro, suficiente para
construir 51.214 apartamentos do
Projeto Cingapura, está sendo cobrado na Justiça por sete ações
movidas pela promotoria.
"Não se pode ter qualquer segurança quanto aos pagamentos
realizados às empresas contratadas", diz o relatório, segundo o
qual as maiores deficiências de
operação e normas envolvem a
limpeza de feiras e a varrição.
Para feiras, segue o relatório, a
prefeitura não deveria desembolsar nenhum centavo, pois a obrigação de limpeza, de acordo com
lei municipal, é dos feirantes.
"O apontamento dos serviços
era feito de maneira estritamente
formal, apenas reproduzindo os
dados do contrato (quantidades e
preços unitários), multiplicados
pelo número de dias do mês, como se fosse crível que serviços de
tal envergadura pudessem ter sido executados à perfeição durante os 365 dias do ano."
O grupo de apuração foi criado
em setembro a pedido de Pitta para apurar as irregularidades do lixo "em todas as áreas do município". Em 90 dias -os trabalhos
foram concluídos em 10 de dezembro-, a comissão encontrou
irregularidades de todos os tipos.
São pelo menos sete falhas, que
começam na assinatura dos contratos e se alastram em uma sucessão de aditamentos ilegais (veja quadro). Em apenas uma delas
-na conversão de cruzeiro para
real- o prejuízo aos cofres públicos chegou a R$ 176,4 milhões.
Há mais. Segundo a comissão, o
município gastou R$ 144,2 milhões para reforçar a varrição em
um projeto inexistente, contratou
em duplicata quilômetros de varrição -gastando 56% a mais com
o mesmo serviço na recontratação, segundo o TCM (Tribunal de
Contas do Município)- e antecipou a data de pagamento pelos
serviços, em um "claro favorecimento das empresas".
A comissão afirma que a "informalidade" com que a prefeitura
trata a limpeza urbana é incompatível com os valores envolvidos
nos contratos e com os princípios
da administração pública.
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