São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2001

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PORTO ALEGRE

Tarso Genro teria incorporado a seu governo propostas de oposicionistas para a área de segurança pública

Para oposição, pacote do PT é marketing

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A oposição ao prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), considera uma "jogada de marketing" o pacote de 38 medidas anunciadas nesta semana, das quais se destacam ações para aumento da segurança pública. Os oposicionistas ainda acusam Genro de se apropriar de suas idéias.
O pacote prevê a implantação do policiamento, com treinamento dos 518 homens da Guarda Municipal, nas 90 escolas municipais. Em 12 anos de gestão petista em Porto Alegre, é a primeira vez que a segurança pública é prioridade do programa de governo.
O candidato derrotado por Genro no segundo turno, Alceu Collares (PDT), criticou o teor das medidas. "Elas têm o caráter da superficialidade, o que mostra que não havia um programa de governo", afirmou.
Ele crê que o programa foi criado às pressas. "O poder de polícia tem de ser exercido em todo o município e não só nas escolas", disse o pedetista, que é deputado federal e pretende apresentar projeto visado dar mais poder às guardas civis.
Collares, que foi prefeito da capital de 86 a 88 e governador do Estado de 91 a 94, disse que o Fórum Social Mundial, de 25 a 30 deste mês, exibirá as "mazelas" de Porto Alegre aos estrangeiros que participarão do evento que discutirá o processo de globalização. "A cidade não serve como modelo para o mundo", declarou.
A também deputada federal Yeda Crusius, que disputou o pleito pelo PSDB, aponta uma ""colcha de retalhos" nas medidas. Ela disse que o prefeito "costurou" sugestões apresentadas por oposicionistas e experiências bem-sucedidas em outros municípios numa ""jogada de marketing".
"Com um atraso de 12 anos (o PT está iniciando o seu quarto mandato consecutivo), a prefeitura assume a responsabilidade pela pobreza local. O prefeito fala em ampliar o programa de renda, que a cidade não adotou, porque ele, na sua gestão anterior (93-96), preferiu a bolsa-escola", disse, sobre outro ponto do pacote.
Segundo a deputada tucana, durante a campanha eleitoral de 2000, a oposição defendeu uma ação municipal na área de segurança. "Mas os petistas negavam. Será que resolveram assumir agora porque existe programa com verba nacional e internacional?"
Para o vereador Antônio Hohlfeldt (PSDB), o prefeito é especialista em "criar fatos que nem sempre se transformam em ação". Acha também que Genro incorporou propostas da oposição: "Ele está demonstrando humildade, contrariando a tradição do PT de achar que sabe tudo".
Primeiro vereador eleito pelo PT na região Sul, em 1982, e secretário dos Transportes de Olívio Dutra na capital gaúcha, em 89, Hohlfeldt avalia que o prefeito dá sinais de querer melhorar o diálogo com a Câmara Municipal -o PT e seus aliados, com 12 votos, de um total de 33, é minoria.
Outro oposicionista, o vereador Nereu D'Ávila (PDT), autor de um projeto para a criação da Secretaria Municipal de Segurança, apresentado no ano passado, afirma que o programa da prefeitura para essa área "adotou" sua idéia, "com outras facetas".
Para o pedetista, o conjunto de medidas é uma "carta de intenções" com pontos importantes, como o projeto para tirar crianças carentes da rua.
O mais antigo vereador de Porto Alegre, João Dib (PPB), 71, que está iniciando seu oitavo mandato, questiona o fato de a prefeitura planejar construir oito creches para repassá-las a entidades comunitárias, esquecendo-se de conceder esse benefício aos funcionários municipais.
"Embora a Lei Orgânica do Município preveja creches para os filhos dos servidores da prefeitura, isso não acontece", disse Dib, ex-prefeito nomeado da cidade (83-86), que defende o aumento do contingente da Guarda Municipal para 800 homens.


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