São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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Temporal provoca nova avalanche de lama em cidade

Após chuva, lama que restava da barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases invadiu de novo casas e ruas em Miraí (MG)

Moradores faziam limpeza quando ocorreu o novo acidente; "é preciso que a empresa abrace problema que causou", diz prefeito

ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A MIRAÍ (MG)

Após um dia inteiro iniciando a limpeza das ruas, a cidade de Miraí (335 km de Belo Horizonte) recebeu mais uma avalanche de lama na madrugada de ontem. Após 50 minutos de temporal, parte da lama que restava na barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases invadiu de novo casas e ruas.
"Não adiantou a limpeza que fiz ontem. Veio tudo de novo igualzinho", lamentou Claudiana Gonçalves, 38, no bairro Indaiá, um dos mais afetados.
"Eu medi. O rio [Fubá] subiu 1,6 m ontem à noite em meia hora! Não durmo há dois dias preocupada com a minha casa", disse Maria Aparecida Silva Pontes, 34. Ela mora na zona rural da cidade, próximo ao leito do rio. "Consegui salvar alguns eletrodomésticos, mas o alimento estragou. Eu e meus filhos estão passando fome."
Os bombeiros estimam que 500 pessoas estão desalojadas desde quarta-feira. Já a prefeitura aponta 4.500 afetados. O governo mineiro fala em 2.000. Cerca de 40% da área urbana do município está sob argila.
A prefeitura disponibilizou uma escola para os desalojados, mas apenas 40 pessoas ocupavam as salas do colégio ontem pela manhã. A maioria dos atingidos se transferiu para casas de amigos e parentes.
Após a quebra da barragem, foram feitos dois diques para segurar a lama que ainda restava. A força da chuva fez com que as barreiras cedessem.
Parte do centro -na parte superior da cidade- também ficou enlameada, pois misturou água com o barro que os tratores traziam de outros locais.
Segundo o diretor-executivo da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) de Minas, Ilmar Bastos, a barragem seria desativada em dois anos, quando atingiria o máxima da capacidade de armazenamento de argila. Ela estava havia 12 anos em funcionamento.
"O cronograma acertado com a Feam, Ministério Público e a empresa estava sendo cumprido", disse. Segundo ele, sete vistorias foram feitas na barragem desde março, quando ocorreu o primeiro acidente. A próxima seria no próximo dia 15.
As vistorias, porém, não detectaram a possibilidade de rompimento da barragem.
A cidade de Muriaé, vizinha a Miraí, ficou alagada. Parte da lama que escorreu pelo rio Fubá invadiu as casas. No entanto, Muriaé já estava alagada antes da quebra da barragem, devido às chuvas na região.
Atingidos, não-atingidos e o prefeito Sérgio Rezende (PMDB) descarregaram toda a raiva em discursos contra a Mineradora Rio Pomba. Com dois acidentes em menos de um ano, a empresa, há 13 anos na cidade, não é mais bem-vinda.
"É preciso que a empresa abrace este problema que causou", disse o prefeito. A empresa, diz ele, a empresa paga R$ 6.000 de imposto ao mês e gera cerca de 105 empregos.
Além da mineradora, a principal empresa da cidade, uma tecelagem que fica às margens do rio Fubá, foi totalmente invadida pela lama.
Apesar do acidente, o abastecimento de água não foi afetado, pois as cidades mineiras são abastecidas por outros rios. O temor é com Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva, Cardoso Moreira e São José do Ubá, no Rio.


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