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ENSINO SUPERIOR
Ministro quer permitir que filantrópicas visem lucro e absorvam alunos carentes
Tarso pretende "estatizar" vagas
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal pretende "estatizar" até o final deste ano 100
mil vagas em instituições particulares de ensino superior para destiná-las a alunos de baixa renda,
negros, índios e ex-detentos.
O anúncio foi feito ontem pelo
ministro Tarso Genro (Educação)
em audiência pública na Comissão de Educação da Câmara. Tarso disse que o principal alvo da
medida serão as instituições sem
fins lucrativos (filantrópicas, comunitárias e confessionais).
"Boa parte das instituições de
ensino sem fins lucrativos atualmente é formada por empresas
disfarçadas, e há uma legislação
que as comprime para a ilegalidade, tornando-as empresas que
operam de fato e não pagam os
impostos. Elas fazem desse método perverso uma forma de privatização do ensino", disse Tarso.
De acordo com o ministro, o
MEC estuda uma forma jurídica
para enquadrar essas instituições
de ensino em um sistema que permita, por exemplo, captar recursos no mercado e distribuir lucros
entre os sócios.
Em contrapartida, o sistema
tornaria públicas 25% das vagas
ociosas. Na média, as instituições
privadas tem 37,4% de ociosidade
-o que equivale a cerca de 550
mil vagas.
O ministro não explicou, porém, como isso será feito nem como será o financiamento para as
instituições não-filantrópicas.
A Folha apurou que uma das alternativas seria incrementar a política de isenção fiscal. Atualmente, as filantrópicas têm isenção e
devem destinar 20% de sua receita para bolsas de estudo.
A proposta, de acordo com Tarso, tem o aval do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Será apresentada em uma semana.
Tentação
Na audiência, o ministro também fez críticas duras ao setor, dizendo que, "nas condições em
que estão criadas essas instituições, existe permanente tentação
à ilegalidade".
E completou: "Quem se torna
empresa [disfarçada], de fato até
sente a tentação permanente de
estabelecer relações ilegais para a
exportação de capitais ilegais, para branqueamento de recursos. E,
portanto, é o convite que a estrutura normativa estatal faz para levar essa instituição ainda mais para uma situação marginal".
Segundo ele, o ministério está
analisando juridicamente "como
retirar as instituições da ilegalidade, colocá-las num plano normativo transparente e ao mesmo
tempo estatizar parte das vagas".
As 100 mil vagas que o ministro
pretende estatizar representam
hoje cerca de 7% do oferecido na
rede privada ou 17,22% do disponível em entidades sem fins lucrativos. Em cinco anos, o governo
quer estatizar 300 mil vagas.
As entidades filantrópicas são
atualmente 13,44% das 2.060 instituições de ensino superior privadas e públicas.
Na audiência com os deputados, o ministro disse ainda que a
criação do Fundeb -fundo para
o financiamento do ensino básico
que vai substituir o Fundef (do
ensino fundamental)- é prioridade do governo neste ano.
Sobre a reforma universitária,
na qual o debate sobre financiamento está incluído, Tarso disse
que ela não servirá como "atestado de bom comportamento para
agências internacionais", mas será voltada para o projeto nacional
de inclusão social.
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