São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Segundo pesquisa Datafolha, 41% se sentem mais seguros do que com medo; temor é mais comum entre os negros

Diminui desconfiança do paulistano na PM

DA REDAÇÃO

O morador da cidade de São Paulo tem hoje mais confiança na ação da Polícia Militar do que quatro anos atrás. Segundo pesquisa Datafolha, em dezembro último, diante de um policial militar, 41% dos paulistanos se sentem mais seguros do que com medo. Em 1999, essa taxa era de 30%.
Mesmo assim, a maioria (54%) tem mais receio do que confiança no corpo de segurança do Estado. O índice é segundo menor desde 1995, quando o Datafolha iniciou esse tipo de consulta ao paulistano.
Outra característica importante desse medo: são, principalmente, os jovens (68% dos que têm entre 16 e 25 anos) que o expressam.
Os próprios números da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo justificam o pavor. Em 2003, 756 civis foram mortos por PMs no Estado. Um crescimento de 39,74% em relação ao ano anterior (541 casos). Na versão policial, as mortes foram supostamente em situação de confronto.
Fato recente reforça a desconfiança do abuso policial. O dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, 28, negro, foi morto com dois tiros no último dia 3, após ser confundido com um ladrão. Seis PMs estão presos, acusados de forjar a versão de que o dentista foi morto após reagir à tentativa de prisão.

Bandido ou polícia
O nível de medo dos criminosos, curiosamente, está no mesmo da força policial. De acordo com a pesquisa, 52% dos moradores de São Paulo afirmam temer mais os bandidos do que os policiais. Esse comportamento é mais verificado entre os homens e mulheres brancas (55% e 62%, respectivamente) do que em outros segmentos.
Entre os jovens (16 a 25 anos) que se declararam pretos e pardos, o temor da polícia é maior do que dos bandidos (45% e 40%). Entre os brancos da mesma idade, a taxa é de 35%.

Abordagem policial
O Datafolha também identificou uma faceta já difundida na forma como a Polícia Militar aborda as pessoas: a cor da pele justifica um tratamento diferente.
Na média da cidade, 46% de seus moradores com mais de 16 anos declaram já ter sido parados alguma vez para serem revistados por policiais.
Quando se detalha essa informação pela cor auto-atribuída do entrevistado, verifica-se que 86% dos homens que se consideram pretos já enfrentaram uma revista policial na rua. Entre os brancos, 71% tiveram essa experiência. Entre os pardos, 82%.
Se o paulistano for preto e jovem (16 a 25 anos), a incidência da abordagem policial é maior, atinge 91% do segmento. Essas mesmas pessoas, foram, em média, revistadas cerca de 10,6 vezes. Brancos do mesmo segmento etário sofreram revista policial, em média, 7,4 vezes.
A grande maioria afirma que nunca foi ofendida verbalmente por um policial (80%) ou agredida fisicamente (92%).
No entanto, os relatos de agressões verbais e físicas são mais presentes entre os que se dizem pretos. No segmento masculino da amostra, 32% declararam já ter sido alvo de agressão verbal de um policial. Outros 16% falaram que foram atingidos por investidas violentas de integrantes da PM.
Entre os homens negros, essas taxas passam, respectivamente, para 38% e 20%. Os jovens negros declararam que em média já foram agredidos fisicamente 4,4 vezes. Os jovens brancos têm uma média 50% menor -2,2 vezes.

Pena de morte
A maioria dos paulistanos (60%) é a favor da pena de morte. É curioso notar que entre os que se dizem pretos, o apoio a essa proposta de punição é maior quanto mais velho for o entrevistado. Entre os jovens, 41% são a favor; entre os de 26 a 40 anos, 65%; e entre os que tem 41 ou mais anos, 69%.
Comportamento semelhante se verifica quando se pergunta ao entrevistado se ele é a favor ou contra a adoção da prisão perpétua no Brasil.
A medida conta com o apoio de 80% dos paulistanos. Entre os que pretos, 76%. E a posição favorável é declarada com mais freqüência os mais velhos desse segmento -88% dos que têm 41 anos ou mais. A proposta encontra eco em pouco mais da metade dos pretos que têm idade entre 16 e 25 anos (57%) e em 84% daqueles que têm de 26 a 40 anos.

Metodologia
A pesquisa Datafolha foi realizada entre os dias 19 de novembro e 3 de dezembro de 2003. Foram entrevistados 4.509 moradores da cidade de São Paulo.
O levantamento é feito por amostragem estratificada por sexo e idade com sorteio aleatório dos entrevistados. A população paulistana com 16 anos ou mais foi tomada como universo da pesquisa. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa foi desenvolvida pela Gerência de Pesquisa de Opinião do Datafolha.


Texto Anterior: Há 50 anos: Por colônia, França acusa espanhóis
Próximo Texto: Entidades relatam preconceito
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.