São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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Jovens de classe média são presos acusados de tráfico

PF prendeu 55 pessoas, de dois grupos, em sua maior ação de combate à venda de drogas sintéticas

Suspeitos negam acusações; presos têm idade média de 26 anos, moram em bairros privilegiados e usam a internet nas negociações

MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

Na sua maior ação para combate à venda de drogas sintéticas, a Polícia Federal prendeu ontem 55 pessoas acusadas de tráfico, 40 delas no Rio, tendo como características a idade média de 26 anos, serem esportistas, moradores de bairros privilegiados e usarem a internet para negociar as drogas.
As operações Nocaute e Trilha foram feitas em conjunto por 300 policiais para tentar desarticular duas quadrilhas cariocas com ramificações em oito outros Estados: Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal.
As duas quadrilhas diferem na estrutura, mas os presos têm o mesmo perfil de idade, são adeptos da prática de esportes e moradores de bairros nobres. Eles movimentaram cerca de R$ 1 milhão por mês exportando cocaína e importando drogas sintéticas, mas, em depoimentos, não se definiram como traficantes, diz a PF. Alguns dos presos faziam parte dos dois grupos desbaratados ontem, que atuavam separadamente.
Ao longo de dez meses de investigações, foram apreendidos cerca de 112 mil comprimidos de ecstasy e 115 mil micropontos de LSD, além de cocaína, haxixe, maconha, lança perfume e skunk. As drogas eram vendidas em festas.
Segundo a PF, os grupos enviavam "mulas" (pessoas contratadas para transporte de drogas) com cocaína trazida da Bolívia e do Paraguai para a Europa. Na volta, essas pessoas traziam ecstasy e LSD. Cada viagem custava em torno de R$ 20 mil e o lucro com a venda dessas drogas chegava a R$ 250 mil. As "mulas" ficavam com R$ 4.000 ou 10 % da droga. Eles costumavam usar casais para levarem as drogas, para evitar despertar suspeitas. Segundo o delegado Fábio Andrade, a maioria das "mulas" eram prostitutas e desempregados.
As investigações começaram há um ano, com a apreensão de 990 gramas de cocaína por policiais franceses no aeroporto de Orly (França). Outro brasileiro preso em março ajudou nas investigações. Além da polícia francesa, a investigação teve apoio de policiais dos EUA.
A droga encontrada na França estava escondida no fundo falso de uma mochila da marca Trilhas & Rumos, que deu nome à operação para desmontar a quadrilha que funcionava como uma organização criminosa. Segundo a PF, eles atuavam desde 2004. Ontem, dessa quadrilha, foram presas 21 pessoas -a maioria no Rio.
Já os presos da operação Nocaute, batizada assim porque muitos deles serem lutadores, usavam rede de relacionamentos na internet para vender as drogas. Segundo o procurador da República Marcello Miller, eles atuavam em esquema de cooperativas. Nesse grupo não havia um chefe, mas alguns movimentavam um volume maior de dinheiro, como é o caso do morador de uma cobertura da zona sul do Rio, Henrique Dornelles Forni, acusado de ser dono de dois pontos de revenda de drogas no morro do Turano, centro do Rio. Sua família nega a acusação. Eles são suspeitos de traficar armas, que eram vendidas em favelas do Rio. Dos 36 mandados de prisão, 34 foram cumpridos ontem.
Os presos podem responder pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e tráfico internacional. Eles serão encaminhados ao sistema prisional. Os inquéritos tramitam em segredo de Justiça.


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