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Para PF, preso em SP é caixa de Abadía
Polícia interroga colombiano dentificado como Carlos Ruiz Santamaria pela Polícia Civil é na verdade Ramón Manuel Yepes Penagos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal interrogou
ontem o colombiano Ramón
Manuel Yepes Penagos, que ficou preso em São Paulo com
identidade falsa, para tentar
descobrir o paradeiro de US$
100 milhões (cerca de R$ 230
milhões) que ele esconderia do
megatraficante Juan Carlos
Ramírez Abadía.
Yepes é apontado pela polícia
da Colômbia e pelo DEA (a polícia anti-drogas dos Estados
Unidos) ora como sócio ora como uma espécie de diretor financeiro de Abadía.
Durante os dois anos em que
a PF acompanhou os passos de
Abadía, de 2005 a 2007, foram
gravadas conversas em que o
nome Manuel é associado a dinheiro, de acordo com interpretação dos policiais que atuaram na Operação Farrapos, que
investigou o megatraficante.
A PF acredita que Yepes sabe
onde está o dinheiro que Abadía tinha escondido no Brasil.
Logo após ser preso, Abadía informou à PF que tinha dinheiro
escondido numa casa em Campinas (95 km a noroeste de São
Paulo). Os policiais foram até o
local indicado e encontraram
enterrados US$ 952 mil (cerca
de R$ 2,18 milhões, pela cotação atual) e 420 mil (pouco
mais de R$ 1,24 milhão).
O próprio Abadía sugeriu ao
juiz Fausto Martin de Sanctis,
que atuou no caso, que tinha
muito mais recursos no Brasil.
Ele ofereceu a De Sanctis entregar US$ 35 milhões para que
o juiz anulasse a ação penal que
movia contra o megatraficante.
Não oferecia nada em troca. O
juiz considerou que Abadía
queria comprar a Justiça brasileira e recusou a oferta.
Apesar de falar espanhol
com um forte sotaque, Yepes
ficou preso oito meses no Centro de Detenção Provisória de
Pinheiros (zona oeste) como se
fosse o mineiro Manoel Oliveira Ortiz. Na última semana, a
Polícia Civil de São Paulo apresentou-o à imprensa como se
fosse Carlos Ruiz Santamaria,
integrante do Cartel de Calí e
procurado na Espanha. Para o
governo espanhol, ele era mexicano. Aos policiais brasileiros, disse ser colombiano.
O nome também era falso. A
verdadeira identidade de Yepes só foi estabelecida depois
que fotos dele circularam pelo
mundo. O DEA e a polícia colombiana informaram que
aquela pessoa não era Ruiz, como dizia a Polícia Civil. A polícia acertou o apelido de Yepes.
Ele é conhecido como El Negro, apesar de ser branco.
O verdadeiro nome do traficante foi revelado anteontem
pelo "Jornal Nacional". Segundo a PF, ele integra o Cartel do
Vale do Norte, o mesmo grupo
do qual Abadía fazia parte.
Yepes é procurado pelas polícias da Colômbia, dos EUA, da
Espanha e da Alemanha. Ele é
acusado de tráfico, homicídio,
formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Na Espanha,
foi condenado sob acusação de
ter traficado 13 toneladas de
cocaína para aquele país. Estava preso na Alemanha, de onde
escapou há cerca de oito anos.
A PF tem dúvidas se Yepes
vai colaborar e revelar o esconderijo dos supostos US$ 100
milhões. Uma das razões da dúvida é que não se sabe se ele
tem parte dos US$ 100 milhões
ou se o dinheiro pertence integralmente a Abadía.
Yepes foi preso pela polícia
paulista no ano passado com
comprimidos de ecstasy, um
indício de que ele não controla
os eventuais US$ 100 milhões.
Se controlasse os recursos, não
se envolveria com o tráfico
miúdo, segundo avalia a PF.
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