São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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Rede policial de proteção ao crime é descoberta no Rio

32 policiais são acusados de desviar armas e drogas e vazar informações

Ex-subchefe da Polícia Civil é um dos presos; até o final da noite, 35 pessoas tinham sido detidas na operação

DIANA BRITO
HUDSON CORRÊA
DO RIO

Uma megaoperação deflagrada ontem no Rio por Polícia Federal, Ministério Público e cúpula da Secretaria de Segurança expôs um esquema criminoso de vazamento de informações, desvio de armas, drogas e dinheiro, formação de milícias e venda de proteção ilegal envolvendo policiais civis e militares.
Alguns deles ocuparam altos cargos na hierarquia do combate à criminalidade.
O vazamento de informações sobre operações policiais permitiu, em agosto de 2010, a fuga do traficante Nem, chefe do tráfico da Rocinha, no episódio que culminou com a invasão do Hotel Intercontinental, em São Conrado, por bandidos.
Ainda estava escuro quando as primeiras equipes da Operação Guilhotina deixaram ontem o prédio da PF, no centro do Rio, para cumprir 45 mandados de prisão -incluindo os de 11 policiais civis e 21 policiais militares- e 48 de busca e apreensão.
No final da noite, 35 pessoas estavam presas. Entre elas, o ex-subchefe da Polícia Civil Carlos Antônio Luiz Oliveira, que até ontem era subsecretário municipal de Ordem Pública -foi exonerado.
Oliveira é acusado de envolvimento com uma milícia que teria desviado armas apreendidas no Complexo do Alemão, após a ocupação por forças de segurança em novembro. A PF não informou se ele tem advogado.
O chefe da Polícia Civil, Alan Turnowski, foi ouvido na PF como testemunha. A Folha apurou que outras pessoas interrogadas o acusaram de receber propina.
Um efetivo de 580 homens participou da operação. Lanchas, mergulhadores e escavadeiras foram usados na busca de corpos que teriam sido jogados na baía de Guanabara e no piscinão de Ramos. Nenhum foi achado.
A Associação dos Delegados de Polícia do Rio criticou a operação, dizendo que ela foi feita "de forma arbitrária, humilhando policiais".
As 45 pessoas com mandados de prisão decretados são acusadas de formação de organizações criminosas com quatro linhas de ação.
Parte recebia propina para informar traficantes de operações policiais -Nem daria ao grupo R$ 100 mil por mês.
Outros desviavam armas e drogas apreendidas, que voltavam para os criminosos. Na tabela dos policiais, uma metralhadora custava R$ 55 mil; um fuzil, R$ 20 mil; e uma pistola, R$ 7.000.
Há ainda os que formaram milícias e os que vendiam proteção para estabelecimentos de jogo ilegal.

SERRA PELADA
Escutas telefônicas revelaram que, após a ocupação, os policiais apelidaram o Complexo do Alemão de Serra Pelada -tal a quantidade de armas, drogas, joias e dinheiro que poderiam obter.
Segundo o superintendente da PF no Rio, Angelo Gioia, a operação no Alemão ajudou nas investigações. "O volume de apreensões foi muito grande e houve desvios."
As escutas mostram ainda que um grupo de milicianos de Ramos, nos arredores do Alemão, prometia pagar 30% do que encontrassem a policiais que dessem informações sobre a localização de bens de traficantes.
O grupo seria chefiado pelo PM da reserva Ricardo Fernandes. Seu filho, o inspetor Christiano Fernandes, da 22ª DP, na Penha, ligou ontem para a delegada-titular, Márcia Becker, pedindo que dissesse que ele estava de férias.
Seu telefone estava grampeado. A delegada depôs na PF e foi liberada. Ele está foragido. Não foi informado se ele e o pai têm advogado.


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