São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011 |
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BICHOS VIVIEN LANDO Histórias de gatos
A CONSTANCE apareceu na minha casa na semana em que perdemos um cachorro. O vácuo estava grande e eu, nada disposta a me afeiçoar novamente a alguma coisa que vivesse menos do que nós (sonhava com uma tartaruga!). Todos os dias colocava a gata para fora e ela voltava pela janela da sala de TV, sempre à mesma hora. Feiosa e charmosa. Mais ou menos lá pelo quinto dia desisti de expulsá-la. Quando viu a cestinha e as tigelas, Constance na hora captou a mensagem e passou a ficar o dia inteiro em casa e a tentar se relacionar mais ou menos bem com meu outro cão. Menos de dois meses depois, teve a primeira cria e lembro o orgulho com que virou a barriga pra cima a fim de me mostrar os filhotinhos. Ela adorava aquilo. Cuidava muito bem dos bebês e logo que eram doados providenciava novos. Até que num Natal fui viajar e, na volta, soube que a Constance havia desaparecido. Colocamos cartazes pela rua e em 1º de janeiro telefonou uma estilista que morava a poucas quadras dali. Para dizer que a Constance na verdade era Pantera e tinha sido dela antes. Depois de uma longa conversa, decidimos pela guarda compartilhada, uma semana em cada casa. O mais engraçado é que quando estava com uma de nós, Constance/ Pantera nem olhava para a outra. Talvez tenha desenvolvido uma espécie de dupla personalidade. Ao final, a gata, inconstante apesar do nome, acabou ficando comigo e tive a ideia de levá-la, com uma das filhas, a Carol, para o escritório, onde já viviam outros três gatos. As duas não foram muito bem recebidas e, numa noite, quando fui fechar as janelas, Constance olhou-me fundo como se dissesse "obrigada por tudo" e eu soube que era uma despedida. Carol, que estava prenha, esperou que os filhotes completassem um mês, deixou-os sob a guarda de um cãozinho que tínhamos e que adorava gatos e foi se juntar à mãe. Nunca mais vi nenhuma das duas. Mas na semana passada ouvi miados no fundo do jardim. Um gatinho de mais ou menos três meses escondeu-se na valeta e foi bem enfático naquele estilo "adote-me ou te deixarei surda". Quando o tirei dali e olhei aquele focinho manchado, achei que bem podia ser bisneto de uma delas. E, mesmo se não for, aprendi que o melhor a fazer é recebê-lo muito bem. Texto Anterior: Por aí: Jogo dos sete erros Próximo Texto: Venezuelano assume a curadoria da 30ª Bienal Índice | Comunicar Erros |
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