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URBANIDADE
NA RUA QUINTINO BOCAIÚVA Se é acima dos prédios que as bandeiras costumam flutuar, uma conseguiu se encarnar num prédio inteiro. Esse prédio -informa a placa- foi construído com o ouro arrecadado para o bem de São Paulo em 1932. Em homenagem à insurreição daquele ano, o arquiteto Severo Villares deu ao prédio a forma da bandeira estadual. Ondulada, se diria, por um suspiro da história. (VINCENZO SCARPELLINI)
As preguiças da Paulista
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Há 55 anos, o estudante
Nelson Baeta voltava para
casa, nos arredores da avenida
Paulista, depois de pular o muro
e pegar frutas numa mansão onde hoje está o Conjunto Nacional. A alegria se desfez quando
viu uma cena que ficaria para
sempre marcada em sua lembrança. Estavam mortos, no
chão, dois bichos-preguiça abraçados; mãe e filhote tinham sido
eletrocutados ao saírem, pelas
árvores, do parque Trianon,
pendurando-se nos fios de eletricidade da rua Peixoto Gomide.
A morte fora anunciada semana antes. O pai do estudante, o
médico Baeta Neves, tinha advertido diretamente o prefeito de
São Paulo de que, mais cedo ou
mais tarde, as preguiças do Trianon morreriam. Não era difícil
prever: deixaram crescer demasiadamente as árvores das ruas
que ladeavam o parque e os bichos ficaram próximos dos fios
elétricos. Não sobrou nenhuma
preguiça.
O adolescente que pulava os
muros tem agora 70 anos e, numa volta ao passado, planeja
criar preguiças no parque Trianon. "Já estou consultando especialistas e zoológicos", anima-se
Nelson Baeta, presidente da Associação Paulista Viva.
Os projetos ecológicos de Baeta
estão baseados nas promessas da
prefeitura para as comemorações dos 450 anos da cidade: pretende-se revitalizar a avenida
Paulista. Lá seria construído um
corredor cultural, onde se realizariam shows de música diariamente. Já existem negociações
com as grandes empresas da
avenida para o patrocínio dos
eventos.
Um dos palcos seria instalado
no parque Trianon já supostamente recuperado - e os imóveis abandonados já estariam
ocupados. "É uma prioridade",
assegura Celso Marcondes, que
preside a comissão do aniversário de São Paulo. Já neste ano o
trecho da Paulista entre o parque e o Masp deverá, aos domingos, ficar fechado ao trânsito.
Talvez a volta das preguiças
pareça delírio juvenil. Um problema, porém, mais difícil de resolver vem ocorrendo no ambiente da selvageria paulistana.
Segundo estatísticas policiais
concluídas nesta semana, desde
que se instalaram os quiosques
com PMs em várias esquinas, os
índices de furto e roubo caíram
70% na avenida Paulista -um
cenário tão distante daquele dos
tempos em que ali o maior risco
de morte quem corria era uma
preguiça num fio elétrico.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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