São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Adolescentes deixaram complexo do Tatuapé correndo; muitos portavam paus e pedaços de ferro

"Parecia a São Silvestre", diz vizinha da Febem

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Parecia a [corrida de] São Silvestre." Com essa frase, a comerciante Elizabeth Benício, 47, que possui dois bares em frente ao complexo do Tatuapé, descreveu a cena que viu durante a fuga de centenas de adolescentes da Febem na noite de anteontem.
O marido dela, José Venâncio, 44, também acompanhou a movimentação. "Vieram da parte de trás do complexo, correndo com paus e pedaços de ferro na mão. Dessa vez, pelo menos, não entraram aqui no nosso bar".
No bar da esquina ao lado, no entanto, os funcionários e clientes não tiveram a mesma sorte e viram o estabelecimento ser invadido por um grupo de três adolescentes que pediam as chaves dos carros dos presentes para a fuga. Ninguém as forneceu e, com pressa, eles acabaram fugindo a pé.
O garçom Antonio Ferreira estava trabalhando no momento da invasão. "Vieram com uns pedaços de pau. Dá muito medo. Trabalho aqui faz um mês e acho que já é a quarta rebelião que eu vejo."
Os moradores do entorno do complexo também afirmam viver uma rotina de medo com as constantes fugas e rebeliões. "Ultimamente isso está um pesadelo. Ninguém aqui está vivendo. Está vegetando, sem dormir, com medo de sair", afirmou Maria Pereira de Jesus, 40, que mora em uma casa em frente ao complexo.
Ela disse que não conseguiu entrar em sua residência no momento da fuga, porque muitos adolescentes passavam, impedindo o acesso dela à porta de sua casa. "Estava sentada na calçada e vi uns funcionários da guarita saírem correndo. Fui dar uma olhada e quando virei para trás para entrar em casa, vi aquela correria na calçada em frente, não tinha mais como voltar", afirmou.
De acordo com relatos de outros moradores e comerciantes da região, alguns adolescentes entraram em prédios próximos para tentar se esconder. "Vi tudo da minha varanda. Apesar de escuro, vi alguns pulando muros. Eles querem fugir, porque aí dentro a gente sabe que eles são mau tratados", afirmou o vendedor José Carlos Nunes, 40, que mora e trabalha a poucos metros do Complexo do Tatuapé.


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