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JUVENTUDE ENCARCERADA
Adolescentes deixaram complexo do Tatuapé correndo; muitos portavam paus e pedaços de ferro
"Parecia a São Silvestre", diz vizinha da Febem
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Parecia a [corrida de] São Silvestre." Com essa frase, a comerciante Elizabeth Benício, 47, que
possui dois bares em frente ao
complexo do Tatuapé, descreveu
a cena que viu durante a fuga de
centenas de adolescentes da Febem na noite de anteontem.
O marido dela, José Venâncio,
44, também acompanhou a movimentação. "Vieram da parte de
trás do complexo, correndo com
paus e pedaços de ferro na mão.
Dessa vez, pelo menos, não entraram aqui no nosso bar".
No bar da esquina ao lado, no
entanto, os funcionários e clientes
não tiveram a mesma sorte e viram o estabelecimento ser invadido por um grupo de três adolescentes que pediam as chaves dos
carros dos presentes para a fuga.
Ninguém as forneceu e, com pressa, eles acabaram fugindo a pé.
O garçom Antonio Ferreira estava trabalhando no momento da
invasão. "Vieram com uns pedaços de pau. Dá muito medo. Trabalho aqui faz um mês e acho que
já é a quarta rebelião que eu vejo."
Os moradores do entorno do
complexo também afirmam viver
uma rotina de medo com as constantes fugas e rebeliões. "Ultimamente isso está um pesadelo. Ninguém aqui está vivendo. Está vegetando, sem dormir, com medo
de sair", afirmou Maria Pereira de
Jesus, 40, que mora em uma casa
em frente ao complexo.
Ela disse que não conseguiu entrar em sua residência no momento da fuga, porque muitos
adolescentes passavam, impedindo o acesso dela à porta de sua casa. "Estava sentada na calçada e vi
uns funcionários da guarita saírem correndo. Fui dar uma olhada e quando virei para trás para
entrar em casa, vi aquela correria
na calçada em frente, não tinha
mais como voltar", afirmou.
De acordo com relatos de outros moradores e comerciantes da
região, alguns adolescentes entraram em prédios próximos para
tentar se esconder. "Vi tudo da
minha varanda. Apesar de escuro,
vi alguns pulando muros. Eles
querem fugir, porque aí dentro a
gente sabe que eles são mau tratados", afirmou o vendedor José
Carlos Nunes, 40, que mora e trabalha a poucos metros do Complexo do Tatuapé.
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