São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

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Agente agredido é filho de ex-funcionária

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Contratado como agente de segurança em janeiro e ferido com golpes de faca pelas costas durante a rebelião da noite de anteontem, Joni Peres, 36, é filho de uma das funcionárias que foram demitidas em massa pela fundação no mês passado.
A mãe de Joni, Maria Aparecida Ferreira Peres, 55, é ex-agente de segurança da Febem, onde trabalhou durante 27 anos. Ela contou que foi demitida por um telegrama, quando estava de férias.
Maria Aparecida estava a três anos de se aposentar e, por conta da idade, não consegue emprego.
Joni é casado e pai de uma menina de 13 anos. Funcionário do turno da noite, ele foi atingido logo após ter tropeçado e caído, enquanto tentava controlar os adolescentes rebelados.
Com a agressão, ele teve os pulmões perfurados e foi encaminhado para o Hospital Municipal Dr. Carmino Caricchio, no Tatuapé, onde foi submetido a uma drenagem torácica.
Consciente e respirando sem ajuda de aparelhos, Joni continua internado na ala de emergência do hospital. Seu quadro de saúde é estável, segundo boletim assinado pelo médico Lino Giavarotti Filho, mas não há previsão de alta.
Além dele, o agente de segurança Luciano Cordeiro de Oliveira, 30, também foi agredido por facadas e passou por uma cirurgia no abdômen. Ele continua internado no mesmo hospital, sem previsão de alta.
A família não quer que Joni continue trabalhando na Febem após sair do hospital. "Prefiro meu filho desempregado, pedindo esmola para sustentar a casa do que correndo risco de morrer dentro da Febem", disse a mãe do agente.
A dona-de-casa, Clarinda Santos Amaral Peres, 40, mulher de Joni, contou que antes de o marido ser contratado pela fundação, ele era funcionário de uma empresa de segurança, mas não tinha registro em carteira. "Como o salário era melhor e incluía benefícios, ele preferiu sair do emprego anterior", disse.
Clarinda também não quer que o marido volte a trabalhar na Febem quando sair do hospital. "A gente não consegue mais ficar tranqüila. Veja só, um pai de família que estava trabalhando está aí, em uma cama de hospital, com os pulmões furados."

Outros tempos
Maria Aparecida disse que nos 27 anos em que atuou como agente de apoio técnico da Febem enfrentou muitas rebeliões e chegou a ser feita de refém em duas ocasiões. "Mas, em nenhum dos casos fui ferida. Os meninos me respeitavam, gostavam de mim. Entrei ali quando ainda era uma menina, tenho toda uma história de vida ali dentro."
Segundo ela, naquela época, a situação dentro das unidades era bem diferente. "Hoje os próprios internos não se respeitam, imagine se eles vão respeitar algum funcionário", disse.


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