São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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EDUCAÇÃO COM LOUVOR

Petrópolis (RJ) e São Carlos (SP) lideram entre cidades com mais de 200 mil habitantes

Melhor ensino médio está no interior

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O melhor ensino médio do país não está nas grandes capitais. Apesar de escolas públicas e privadas do Rio e de São Paulo terem se destacado isoladamente no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), do MEC, levantamento feito pela Folha a partir das médias gerais mostra que alguns municípios de médio porte do interior tiveram desempenho melhor do que as maiores cidades do país.
A Folha comparou a média dos alunos no Enem de 122 municípios que, segundo o IBGE, tinham mais de 200 mil habitantes. Esse corte foi preciso porque cidades muito pequenas poderiam ter só uma ou duas escolas avaliadas. Desse grupo, quem mais se destacou foi Petrópolis, na região serrana do Rio, cuja média dos alunos das redes pública e privada no exame foi de 54,274 pontos.
Em seguida vêm São Carlos (SP), Vitória (ES), Santa Maria (RS), Niterói (RJ) e São Leopoldo (RS). Duas grandes capitais tiveram bom resultado: Porto Alegre (10º lugar) e Belo Horizonte (11º).
O Rio de Janeiro ficou na 28ª colocação, superado dentro do Estado por Petrópolis e Niterói. São Paulo foi a 37ª, atrás, no Estado, de São Carlos, Jundiaí, São José do Rio Preto, Limeira, Campinas, Santos, Marília, Presidente Prudente, Taubaté e Ribeirão Preto.
As piores cidades na lista foram Itaquaquecetuba (SP), Belford Roxo (RJ) e Boa Vista (RR).
Duas características são marcantes nas dez melhores. A primeira é que nove delas, exceto Porto Alegre, são de pequeno ou médio porte (entre 200 mil e 500 mil moradores). A segunda é que, em oito delas, há grandes universidades públicas ou privadas, o que facilita, segundo secretários de Educação ouvidos pela Folha, a capacitação do corpo docente.
Para o pesquisador Creso Franco, da PUC do Rio, autor de vários estudos sobre o desempenho de alunos no Saeb (exame do MEC que avalia a educação básica) e Pisa (exame internacional que compara países), cidades do interior costumam ter, em relação às grandes capitais, a vantagem de uma maior participação da comunidade em suas escolas.
"O que já se sabia pelo Saeb é que muito freqüentemente escolas públicas de cidades do interior são melhores que as públicas de capitais. No interior, o diretor e os professores muitas vezes são membros da comunidade à qual a escola serve e conhecem os pais e os alunos. Tudo isso favorece o ensino e a aprendizagem."
Os resultados do Enem permitem também separar o desempenho do município por tipo de rede. Isso deixa claro o abismo que separa a rede pública da privada.
As sete cidades com melhor desempenho apenas na rede pública são gaúchas: São Leopoldo, Santa Maria, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Canoas, Porto Alegre e Pelotas. As três menores médias na rede pública estão no Nordeste: Olinda (PE), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Ilhéus (BA). Em seguida, porém, aparece um município paulista: Itaquaquecetuba.
A média da rede pública de São Leopoldo (49,502 pontos), a melhor do país, colocaria a cidade apenas na 114ª colocação caso fosse comparada com o desempenho das melhores redes privadas.
Para a presidente da Undime (associação de secretários municipais da Educação), Maria do Pilar Silva, a comparação entre as redes pública e privada é injusta. "Não se pode fazer a comparação sem levar em conta o fator socioeconômico. Com tudo o que têm, os colégios particulares fazem é muito pouco. Tanto que, mesmo na rede privada, nossos alunos têm resultados ruins em comparações internacionais. O verdadeiro trabalho de transformação é feito na rede pública. Colocar um menino da periferia numa universidade vale mais que cem alunos da melhor escola particular."
O desempenho dos alunos por escola pode ser conferido na página do Inep: www.inep.gov.br.
Veja mais dados na www.folha.com.br/060693

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