São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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EDUCAÇÃO COM LOUVOR

Comparação aponta que 7 melhores cidades são gaúchas; piores resultados estão no Norte e no Nordeste

Rede pública do Rio Grande do Sul se destaca

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA SUCURSAL DO RIO

Os resultados do exame nacional refletem o abismo que separa a qualidade da rede pública se comparada à particular, inclusive com as diferenças regionais existentes no Brasil.
Se comparadas as médias por região, as melhores redes públicas estão no Rio Grande do Sul. As sete primeiras cidades são: São Leopoldo, Santa Maria, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Canoas, Porto Alegre e Pelotas. Das sete piores notas, seis estão no Norte e Nordeste: Manaus, Salvador, Boa Vista, Ilhéus (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Olinda (PE). A outra é Itaquaquecetuba (SP).
Na média das privadas, as sete primeiras são São Carlos (SP) -onde a média chegou a 62,92 pontos-, Franca (SP), Sete Lagoas (MG), Jundiaí (SP), Londrina (PR) e Belo Horizonte. Na outra ponta aparecem Jaboatão dos Guararapes e Paulista (ambos em PE), Aparecida de Goiânia, Belford Roxo (RJ) e Alvorada (RS).
A diferença entre a média no exame das escolas públicas e a das particulares chega a 23,65 pontos em Feira de Santana (BA), a mais desigual entre as 122 cidades pesquisadas pela Folha. Levando em conta somente a rede privada, Feira de Santana está na 6ª posição. Apenas entre as públicas, o município cai para 103º lugar.
A que apresenta a menor desigualdade é Canoas (RS), com diferença de 2,99 pontos. Alvorada (RS) é o único município em que a rede pública é melhor que a privada. Porém, esse dado pode não ser consistente, pois só uma escola particular teve alunos que prestaram o Enem.
Em nenhum dos 122 municípios, a média geral da rede pública chega aos 50 pontos no Enem, exame cuja nota varia de zero a cem. Já entre as privadas, apenas nove cidades tiveram média abaixo dos 50 pontos.
Para o presidente do Consed (Conselho dos Secretários Estaduais de Educação), Gabriel Chalita, além da diferença de qualidade entre as duas redes, é preciso levar em conta os alunos do EJA (Ensino de Jovens e Adultos), que haviam deixado a escola e agora voltaram a estudar. A nota desses estudantes e os do ensino regular não foi separada pelo Enem.
"Muitos Estados expandiram o EJA nos últimos anos, o que pode ajudar a explicar a média baixa. Isso influencia também na média de algumas particulares, que têm um trabalho social", diz Chalita, secretário no Estado de São Paulo.
Segundo o pesquisador da PUC-RJ Creso Franco, outro fator são as diferenças dentro das próprias regiões no país. "A diferença entre públicas e privadas é realmente maior no Nordeste do que no Sul e Sudeste. Outras pesquisas já haviam detectado isso. Talvez esteja relacionado ao tema das desigualdades intra-regiões, freqüentemente maiores do que as desigualdades entre regiões", diz.
Prefeitos e secretários gaúchos citam a tradição de valorizar a educação herdada dos imigrantes, as universidades integradas à cidade e uma classe média que cobra resultados na escola pública para explicar o sucesso no Enem.
O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, diz que a comunidade participa ativamente da gestão da escola. "Os pais assumem para si a escola e participam ativamente dela. Além disso, temos uma grande universidade [a UniSinos] que nos ajuda no processo de qualificação do corpo docente."
Marcos Zandonai, secretário de Educação de Canoas, também aponta a qualificação do docente. "Já temos hoje mais de 500 professores com pós-graduação na rede municipal, o que dá quase um terço do total. Isso se reflete na qualidade do ensino."
Em Caxias do Sul, a secretaria Mariza Abreu diz que nada ocorreu da noite para o dia. "A cidade é a segunda maior do Rio Grande do Sul e tem uma economia muito forte. O nível de ensino tem a ver com essa questão econômica, mas também com uma tradição de valorização da educação herdada pela colonização européia. Nosso bom resultado não é obra de uma única administração, mas um esforço de toda a sociedade."

Nordeste
Um grande número de alunos no ensino médio noturno, a expansão das matrículas no EJA e a baixa procura dos estudantes da rede pública pelo Enem são os fatores apontados por gestores do Nordeste para explicar a diferença de desempenho em comparação com rede particular.
A gerente de ensino médio da Secretaria da Educação do Piauí, Socorro Rodrigues, diz que 70% dos alunos estudam à noite. "Esses jovens trabalham, vêm de famílias muitas vezes carentes e isso faz diferença no desempenho."
Para secretária da Educação da Bahia, Anaci Paim, o caso de Feira de Santana está distorcido. Segundo ela, apenas 18% dos estudantes da rede pública prestaram o exame. Já nas escolas particulares, foram 46%. "Essa diferença de participação pode distorcer a realidade, não revelando com clareza a qualidade do ensino." (LUCIANA CONSTANTINO E ANTÔNIO GOIS)

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