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EDUCAÇÃO COM LOUVOR
Comparação aponta que 7 melhores cidades são gaúchas; piores resultados estão no Norte e no Nordeste
Rede pública do Rio Grande do Sul se destaca
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
Os resultados do exame nacional refletem o abismo que separa
a qualidade da rede pública se
comparada à particular, inclusive
com as diferenças regionais existentes no Brasil.
Se comparadas as médias por
região, as melhores redes públicas
estão no Rio Grande do Sul. As sete primeiras cidades são: São Leopoldo, Santa Maria, Caxias do Sul,
Novo Hamburgo, Canoas, Porto
Alegre e Pelotas. Das sete piores
notas, seis estão no Norte e Nordeste: Manaus, Salvador, Boa Vista, Ilhéus (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Olinda (PE). A outra é Itaquaquecetuba (SP).
Na média das privadas, as sete
primeiras são São Carlos (SP)
-onde a média chegou a 62,92
pontos-, Franca (SP), Sete Lagoas (MG), Jundiaí (SP), Londrina (PR) e Belo Horizonte. Na outra ponta aparecem Jaboatão dos
Guararapes e Paulista (ambos em
PE), Aparecida de Goiânia, Belford Roxo (RJ) e Alvorada (RS).
A diferença entre a média no
exame das escolas públicas e a das
particulares chega a 23,65 pontos
em Feira de Santana (BA), a mais
desigual entre as 122 cidades pesquisadas pela Folha. Levando em
conta somente a rede privada,
Feira de Santana está na 6ª posição. Apenas entre as públicas, o
município cai para 103º lugar.
A que apresenta a menor desigualdade é Canoas (RS), com diferença de 2,99 pontos. Alvorada
(RS) é o único município em que
a rede pública é melhor que a privada. Porém, esse dado pode não
ser consistente, pois só uma escola particular teve alunos que prestaram o Enem.
Em nenhum dos 122 municípios, a média geral da rede pública chega aos 50 pontos no Enem,
exame cuja nota varia de zero a
cem. Já entre as privadas, apenas
nove cidades tiveram média abaixo dos 50 pontos.
Para o presidente do Consed
(Conselho dos Secretários Estaduais de Educação), Gabriel Chalita, além da diferença de qualidade entre as duas redes, é preciso
levar em conta os alunos do EJA
(Ensino de Jovens e Adultos), que
haviam deixado a escola e agora
voltaram a estudar. A nota desses
estudantes e os do ensino regular
não foi separada pelo Enem.
"Muitos Estados expandiram o
EJA nos últimos anos, o que pode
ajudar a explicar a média baixa.
Isso influencia também na média
de algumas particulares, que têm
um trabalho social", diz Chalita,
secretário no Estado de São Paulo.
Segundo o pesquisador da
PUC-RJ Creso Franco, outro fator
são as diferenças dentro das próprias regiões no país. "A diferença
entre públicas e privadas é realmente maior no Nordeste do que
no Sul e Sudeste. Outras pesquisas
já haviam detectado isso. Talvez
esteja relacionado ao tema das desigualdades intra-regiões, freqüentemente maiores do que as
desigualdades entre regiões", diz.
Prefeitos e secretários gaúchos
citam a tradição de valorizar a
educação herdada dos imigrantes, as universidades integradas à
cidade e uma classe média que cobra resultados na escola pública
para explicar o sucesso no Enem.
O prefeito de São Leopoldo, Ary
Vanazzi, diz que a comunidade
participa ativamente da gestão da
escola. "Os pais assumem para si
a escola e participam ativamente
dela. Além disso, temos uma
grande universidade [a UniSinos]
que nos ajuda no processo de
qualificação do corpo docente."
Marcos Zandonai, secretário de
Educação de Canoas, também
aponta a qualificação do docente.
"Já temos hoje mais de 500 professores com pós-graduação na
rede municipal, o que dá quase
um terço do total. Isso se reflete na
qualidade do ensino."
Em Caxias do Sul, a secretaria
Mariza Abreu diz que nada ocorreu da noite para o dia. "A cidade
é a segunda maior do Rio Grande
do Sul e tem uma economia muito forte. O nível de ensino tem a
ver com essa questão econômica,
mas também com uma tradição
de valorização da educação herdada pela colonização européia.
Nosso bom resultado não é obra
de uma única administração, mas
um esforço de toda a sociedade."
Nordeste
Um grande número de alunos
no ensino médio noturno, a expansão das matrículas no EJA e a
baixa procura dos estudantes da
rede pública pelo Enem são os fatores apontados por gestores do
Nordeste para explicar a diferença de desempenho em comparação com rede particular.
A gerente de ensino médio da
Secretaria da Educação do Piauí,
Socorro Rodrigues, diz que 70%
dos alunos estudam à noite. "Esses jovens trabalham, vêm de famílias muitas vezes carentes e isso
faz diferença no desempenho."
Para secretária da Educação da
Bahia, Anaci Paim, o caso de Feira
de Santana está distorcido. Segundo ela, apenas 18% dos estudantes da rede pública prestaram
o exame. Já nas escolas particulares, foram 46%. "Essa diferença
de participação pode distorcer a
realidade, não revelando com clareza a qualidade do ensino."
(LUCIANA CONSTANTINO E ANTÔNIO GOIS)
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