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PSDB culpa PSDB por crise na educação
Queda no desempenho das escolas de São Paulo nos exames gerou mal-estar no partido que comanda o Estado desde 95
O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza e Rose Neubauer, secretária estadual na gestão Mário Covas, apontam problemas
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
O péssimo desempenho da
escola pública de São Paulo nos
exames de qualidade de ensino
gerou um mal-estar no PSDB
-partido que comanda o Estado desde 1995- e críticas entre
os seus principais expoentes
para a área da educação.
Em entrevista exclusiva à
Folha, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza (gestão
Fernando Henrique Cardoso)
disse que houve má implantação da progressão continuada
no Estado, programa instituído
no período no qual Rose Neubauer foi secretária da Educação (gestão Mário Covas).
Rose Neubauer, por sua vez,
criticou seu sucessor, Gabriel
Chalita (gestão Geraldo Alckmin), dizendo que ele acabou
com medidas de apoio que
eram fundamentais ao projeto.
Procurado desde a segunda-feira da semana passada, Chalita não respondeu ao pedido de
entrevista. Sua assessoria afirmou na sexta-feira que ele só
poderá falar hoje, mesmo alertado de que as outras entrevistas seriam publicadas antes.
A progressão continuada foi
implantada nas escolas estaduais paulistas em 1997 pela secretária Rose Neubauer e vigora desde então no Estado.
No sistema, as crianças do
ensino fundamental não podem ser reprovadas ao final de
cada ano letivo, mas apenas ao
término de um ciclo, atualmente de quatro anos (ou seja, na
quarta e na oitava séries).
A progressão continuada visa
dar mais tempo de recuperação
ao estudante com dificuldade
antes da eventual reprovação.
Outra vantagem que o modelo traz, com a diminuição da repetência, é a redução da evasão
dos alunos (estudos da área
educacional apontam a reprovação como uma das principais
causas de abandono).
Nesse ponto, a progressão
obteve êxito: a porcentagem de
alunos do ensino fundamental
que abandonaram a escola diminuiu 58,3% (os números referem-se ao período de 1999 a
2004, disponível no banco de
dados on-line do instituto de
pesquisas do MEC). No país, o
número diminuiu 30,8%.
Já nos resultados em exames
de qualidade, porém, o Estado
não obteve o mesmo êxito.
Reportagem da Folha na segunda-feira passada mostrou
que nenhuma escola estadual
teve média superior a 50 (em
cem pontos) no Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio).
Outro levantamento, inédito, mostra que a rede estadual
de São Paulo estava entre as
melhores do país em 1995, mas
caiu dez anos depois em todos
os rankings possíveis (veja gráfico nesta página).
A tabulação tem como base o
Saeb, exame do governo federal que avalia a quarta e a oitava
séries do ensino fundamental e
o terceiro ano do ensino médio.
Em língua portuguesa do terceiro ano, por exemplo, a rede
estadual tinha a média mais alta em 1995, mas em 2005 foi
apenas o oitavo melhor Estado.
"Há diversos fatores envolvidos, como a inclusão de crianças que estavam fora da escola.
Mas certamente a forma como
a progressão foi implementada
prejudicou", diz o professor da
Faculdade de Educação da USP
José Augusto Dias.
"Como dar uma boa recuperação se as escolas estão superlotadas?", questiona o membro
do Conselho Estadual de Educação Joaquim Pedro Villaça
de Souza Campos.
Para tentar reverter os resultados negativos, a atual secretária da Educação, Maria Lucia
Marcondes Carvalho Vasconcelos (gestão Serra), vai diminuir a duração dos ciclos de
quatro para dois anos.
A intenção é que as dificuldades dos alunos sejam detectadas mais rapidamente e, se necessário, eles comecem a rever
o conteúdo sem precisar esperar os quatro anos.
Para Paulo Renato, "a periodicidade não é tão importante
quanto a escola se preparar para uma atitude diferente".
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