São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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PSDB culpa PSDB por crise na educação

Queda no desempenho das escolas de São Paulo nos exames gerou mal-estar no partido que comanda o Estado desde 95

O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza e Rose Neubauer, secretária estadual na gestão Mário Covas, apontam problemas


FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O péssimo desempenho da escola pública de São Paulo nos exames de qualidade de ensino gerou um mal-estar no PSDB -partido que comanda o Estado desde 1995- e críticas entre os seus principais expoentes para a área da educação.
Em entrevista exclusiva à Folha, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza (gestão Fernando Henrique Cardoso) disse que houve má implantação da progressão continuada no Estado, programa instituído no período no qual Rose Neubauer foi secretária da Educação (gestão Mário Covas).
Rose Neubauer, por sua vez, criticou seu sucessor, Gabriel Chalita (gestão Geraldo Alckmin), dizendo que ele acabou com medidas de apoio que eram fundamentais ao projeto.
Procurado desde a segunda-feira da semana passada, Chalita não respondeu ao pedido de entrevista. Sua assessoria afirmou na sexta-feira que ele só poderá falar hoje, mesmo alertado de que as outras entrevistas seriam publicadas antes.
A progressão continuada foi implantada nas escolas estaduais paulistas em 1997 pela secretária Rose Neubauer e vigora desde então no Estado.
No sistema, as crianças do ensino fundamental não podem ser reprovadas ao final de cada ano letivo, mas apenas ao término de um ciclo, atualmente de quatro anos (ou seja, na quarta e na oitava séries).
A progressão continuada visa dar mais tempo de recuperação ao estudante com dificuldade antes da eventual reprovação.
Outra vantagem que o modelo traz, com a diminuição da repetência, é a redução da evasão dos alunos (estudos da área educacional apontam a reprovação como uma das principais causas de abandono).
Nesse ponto, a progressão obteve êxito: a porcentagem de alunos do ensino fundamental que abandonaram a escola diminuiu 58,3% (os números referem-se ao período de 1999 a 2004, disponível no banco de dados on-line do instituto de pesquisas do MEC). No país, o número diminuiu 30,8%.
Já nos resultados em exames de qualidade, porém, o Estado não obteve o mesmo êxito.
Reportagem da Folha na segunda-feira passada mostrou que nenhuma escola estadual teve média superior a 50 (em cem pontos) no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Outro levantamento, inédito, mostra que a rede estadual de São Paulo estava entre as melhores do país em 1995, mas caiu dez anos depois em todos os rankings possíveis (veja gráfico nesta página).
A tabulação tem como base o Saeb, exame do governo federal que avalia a quarta e a oitava séries do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio.
Em língua portuguesa do terceiro ano, por exemplo, a rede estadual tinha a média mais alta em 1995, mas em 2005 foi apenas o oitavo melhor Estado.
"Há diversos fatores envolvidos, como a inclusão de crianças que estavam fora da escola. Mas certamente a forma como a progressão foi implementada prejudicou", diz o professor da Faculdade de Educação da USP José Augusto Dias.
"Como dar uma boa recuperação se as escolas estão superlotadas?", questiona o membro do Conselho Estadual de Educação Joaquim Pedro Villaça de Souza Campos.
Para tentar reverter os resultados negativos, a atual secretária da Educação, Maria Lucia Marcondes Carvalho Vasconcelos (gestão Serra), vai diminuir a duração dos ciclos de quatro para dois anos.
A intenção é que as dificuldades dos alunos sejam detectadas mais rapidamente e, se necessário, eles comecem a rever o conteúdo sem precisar esperar os quatro anos.
Para Paulo Renato, "a periodicidade não é tão importante quanto a escola se preparar para uma atitude diferente".


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