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Após 2 anos, sobe nº de transplantes no país
Segundo a ABTO, em 2007 foram realizados 4.734 procedimentos de todos os tipos de órgão, contra 4.688 no ano anterior
Aumento foi puxado pelo recorde de doações de rins;
resistência familiar ainda é principal entrave para a
efetivação das doações
MATHEUS PICHONELLI
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Puxado pelo recorde histórico de doações de rins, o número
de transplantes de órgãos no
Brasil cresceu em 2007, após
dois anos seguidos de queda.
No ano passado, segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) obtidos pela Folha, foram realizados 4.734 procedimentos de todos os tipos de órgão. Em 2006, foram 4.688.
Isso significa que a cada um
milhão de habitantes, 6,2 doaram órgãos no ano passado
-pouco acima dos 6 do ano anterior. A marca ainda é inferior
à de 2005 (6,3) e à de 2004
(7,2), a maior até hoje. Na Espanha, o índice chega a 35.
A recuperação em 2007
ocorreu especialmente no segundo semestre, em parte pela
alta de doações de rins. Foram
3.397 registros de doações do
órgão em 2007. Em 2006, foram 3.281 registros.
Valter Duro Garcia, presidente da ABTO, atribui o aumento das doações de rins à
maior eficiência no processo
posterior à notificação dos casos de morte cerebral, quando
a doação pode começar a ser
providenciada.
Notificações
A ABTO estima que apenas
metade dos casos de morte encefálica foi notificada nos hospitais em 2007 (5.494). Para
Renato Gomes, diretor da ONG
Adote (Aliança Brasileira pela
Doação de Órgãos e Tecidos),
"é preciso investir na conscientização do profissional, na notificação da morte cerebral".
Dos 5.494 potenciais doadores notificados, só 1.150 se tornaram doadores. Ou seja, em
4.344 casos a doação, por algum motivo, não aconteceu. O
principal entrave para a não
efetivação das doações no país
ainda é a resistência familiar.
A família não autorizou a
doação em 34,7% dos casos em
que o procedimento não foi
realizado (em 33,3% houve
contra-indicação médica e, em
0,4%, a infra-estrutura do hospital não era adequada).
Na opinião de Garcia, a melhora do índice se deu em razão
da intensificação dos trabalhos
feitos em hospitais de Estados
com histórico ruim de doação,
onde foram foram promovidos
cursos e reuniões.
Ele cita como exemplo a
Bahia, que até o ano passado jamais havia atingido dois doadores por milhão de habitantes e
fechou 2007 com índice de 3,3.
No ano passado, 66.360 pessoas estavam à espera de doações no país.
Espera por um coração
O policial militar e advogado
Antonio Roberto Queiroz, 34,
descobriu há dez anos ter uma
doença que, gradativamente, o
levaria a um transplante de
coração.
Ele tem miocardiopatia dilatada idiopática, que leva ao inchaço do coração.
Até o ano passado, Queiroz
convivia com a doença, mas
passou a não conseguir mais
descer escadas ou abrir uma
garrafa de refrigerante, como
contou o seu pai, Arlindo Antônio Queiroz, 65.
Dia 23 de dezembro de 2007,
ele fez uma cirurgia e colocou
um coração artificial para
aguardar por um transplante.
Desde então, está internado
na UTI do Incor (Instituto do
Coração) do Distrito Federal.
"Quando ele fez a cirurgia, os
médicos disseram que poderia
ficar de oito meses a um ano
com o coração artificial à espera de um transplante, mas depois as informações ficaram
desencontradas e passamos a
perceber que não há um prazo
para ficar com o equipamento",
disse o pai.
O coração artificial, segundo
médicos do Incor, garante uma
sobrevida, ampliando o tempo
de espera pelo órgão. Como a
doença de Queiroz é degenerativa, a única alternativa é fazer
o transplante.
Enquanto aguardavam para
entrar na UTI, ontem à noite,
os pais perguntaram ao médico
que atende Queiroz como ele
estava. "Melhor do que ontem
e, tomara, pior do que amanhã", disse.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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