São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Após 2 anos, sobe nº de transplantes no país

Segundo a ABTO, em 2007 foram realizados 4.734 procedimentos de todos os tipos de órgão, contra 4.688 no ano anterior

Aumento foi puxado pelo recorde de doações de rins; resistência familiar ainda é principal entrave para a efetivação das doações

MATHEUS PICHONELLI
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Puxado pelo recorde histórico de doações de rins, o número de transplantes de órgãos no Brasil cresceu em 2007, após dois anos seguidos de queda.
No ano passado, segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) obtidos pela Folha, foram realizados 4.734 procedimentos de todos os tipos de órgão. Em 2006, foram 4.688.
Isso significa que a cada um milhão de habitantes, 6,2 doaram órgãos no ano passado -pouco acima dos 6 do ano anterior. A marca ainda é inferior à de 2005 (6,3) e à de 2004 (7,2), a maior até hoje. Na Espanha, o índice chega a 35.
A recuperação em 2007 ocorreu especialmente no segundo semestre, em parte pela alta de doações de rins. Foram 3.397 registros de doações do órgão em 2007. Em 2006, foram 3.281 registros.
Valter Duro Garcia, presidente da ABTO, atribui o aumento das doações de rins à maior eficiência no processo posterior à notificação dos casos de morte cerebral, quando a doação pode começar a ser providenciada.

Notificações
A ABTO estima que apenas metade dos casos de morte encefálica foi notificada nos hospitais em 2007 (5.494). Para Renato Gomes, diretor da ONG Adote (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos), "é preciso investir na conscientização do profissional, na notificação da morte cerebral".
Dos 5.494 potenciais doadores notificados, só 1.150 se tornaram doadores. Ou seja, em 4.344 casos a doação, por algum motivo, não aconteceu. O principal entrave para a não efetivação das doações no país ainda é a resistência familiar.
A família não autorizou a doação em 34,7% dos casos em que o procedimento não foi realizado (em 33,3% houve contra-indicação médica e, em 0,4%, a infra-estrutura do hospital não era adequada).
Na opinião de Garcia, a melhora do índice se deu em razão da intensificação dos trabalhos feitos em hospitais de Estados com histórico ruim de doação, onde foram foram promovidos cursos e reuniões.
Ele cita como exemplo a Bahia, que até o ano passado jamais havia atingido dois doadores por milhão de habitantes e fechou 2007 com índice de 3,3. No ano passado, 66.360 pessoas estavam à espera de doações no país.

Espera por um coração
O policial militar e advogado Antonio Roberto Queiroz, 34, descobriu há dez anos ter uma doença que, gradativamente, o levaria a um transplante de coração.
Ele tem miocardiopatia dilatada idiopática, que leva ao inchaço do coração.
Até o ano passado, Queiroz convivia com a doença, mas passou a não conseguir mais descer escadas ou abrir uma garrafa de refrigerante, como contou o seu pai, Arlindo Antônio Queiroz, 65.
Dia 23 de dezembro de 2007, ele fez uma cirurgia e colocou um coração artificial para aguardar por um transplante.
Desde então, está internado na UTI do Incor (Instituto do Coração) do Distrito Federal.
"Quando ele fez a cirurgia, os médicos disseram que poderia ficar de oito meses a um ano com o coração artificial à espera de um transplante, mas depois as informações ficaram desencontradas e passamos a perceber que não há um prazo para ficar com o equipamento", disse o pai.
O coração artificial, segundo médicos do Incor, garante uma sobrevida, ampliando o tempo de espera pelo órgão. Como a doença de Queiroz é degenerativa, a única alternativa é fazer o transplante.
Enquanto aguardavam para entrar na UTI, ontem à noite, os pais perguntaram ao médico que atende Queiroz como ele estava. "Melhor do que ontem e, tomara, pior do que amanhã", disse.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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