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Para ampliar porto, Estado quer aterrar manguezal
Se plano for aprovado, São Sebastião irá perder área rica em biodiversidade
Projeto apresentado pela administração do porto já
enfrenta a resistência de ambientalistas locais e de
centro de pesquisas da USP
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo pretende aterrar uma área de 100
mil m2 de mangue na baía do
Araçá, centro de São Sebastião,
litoral norte do Estado, para
ampliar a capacidade de operação do porto. O Araçá é um dos
últimos remanescentes de
mangue na cidade e, além da
fauna local, ainda é ponto de
passagem de aves migratórias.
O projeto, que foi cogitado
20 anos atrás e arquivado, foi
anunciado na semana passada
pelo presidente da Companhia
Docas de São Sebastião, Frederico Bussinger, em reunião do
CBHLN (Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte).
O aterro será maior e fará desaparecer a baía do Araçá, de
cerca de 500 mil m2, equivalente a um terço do parque Ibirapuera, em São Paulo. Em razão
da rica biodiversidade, a baía é
usada como "laboratório aberto" pelo CEBIMar (Centro de
Biologia Marinha) da USP, que
é baseado em São Sebastião.
Os manguezais são considerados vitais para a vida marinha. São neles que diversas espécies se alimentam e buscam
proteção. Podem ser vistas no
Araçá aves pernaltas como colhereiros (semelhante a um flamingo-rosa) e garças, além de
uma diversidade de moluscos.
O Araçá também abriga pescadores artesanais, que utilizam
as chamadas canoas caiçaras,
uma tradição do litoral norte.
O diretor do CEBIMar, Alvaro Migotto, considera o projeto
uma temeridade. "Estamos
reunindo estudos técnicos [para apresentar ao Estado]. Além
do mangue, essa obra deve afetar outras praias da região." Isso ocorre porque as praias "trocam" areia umas com as outras
-quando uma é modificada,
outras podem ter alterações.
Devido ao previsível impacto
na região, o projeto é criticado
por ambientalistas, por eliminar uma área rica em espécies
animais, ao lado do porto. O advogado Eduardo Hipolyto do
Rego, suplente do Consema
(Conselho Estadual do Meio
Ambiente) pelas ONGs da região, disse que haverá resistências contra a proposta. "É uma
coisa de maluco", diz Rego.
Bussinger, por sua vez, afirma que os impactos são inevitáveis, mas que a ampliação do
porto, estimada em R$ 1,5 bilhão, é um projeto altamente
necessário para o país, devido
ao estrangulamento da estrutura portuária brasileira. "O
Estado, o Brasil precisa desse
porto. São Sebastião é uma
oportunidade única na costa
brasileira", argumenta.
O secretário do Meio Ambiente de São Sebastião, Téo
Balieiro, defende uma discussão "livre de paixões". "Hoje,
vejo o projeto mais como um
exercício de planejamento, que
depende do debate com a sociedade para prosperar, de um
processo de negociação."
Os mangues, chamados de
berçários de peixes, são consideradas áreas de preservação
permanente. Para fazer a obra,
a companhia -criada pelo governador José Serra (PSDB)
em 2007- vai ter de obter o licenciamento com a apresentação de um estudo de impacto
ambiental aos órgãos do município, do Estado e da União.
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