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foco
Igreja monta ringue de vale-tudo em templo para atrair mais jovens a culto
APU GOMES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois, três, quatro rounds e,
com o perdedor estirado na
lona, o pastor Mazola encerra
a primeira série de lutas e
anuncia o início do culto.
É 1h
da madrugada de sábado e o
templo da Igreja Renascer em
Cristo em Alphaville, na
Grande São Paulo, abriga seu
primeiro campeonato de vale-tudo, esporte de combate que
mescla modalidades como boxe e caratê. "Queremos atrair
mais jovens", conta o bispo
Leandro Miglioli, 33, de jeans
e camiseta polo.
Sem álcool e cigarro, mas
com a pancadaria tradicional
do esporte, o festival reuniu
frequentadores de academias
da região para se enfrentarem
no ringue colado ao altar. O
público (bermuda, chinelo, tatuagem) vibrava.
O locutor do embate ficava
no palco onde os pastores fazem as pregações. Na pausa
para louvor no mesmo local, o
pastor Mazola (cabeça raspada e camiseta regata de lutador) contou que já foi usuário
de drogas e convocou os presentes a se converterem.
"Cerca de 60 jovens entregaram a vida para Jesus", diz
Miglioli, que cadastrou nomes
e telefones dos convertidos.
Culto encerrado, a luta continua -até depois das 3h30,
cinco horas após começar. Satisfeita, a igreja fará outro
campeonato neste ano.
"Um ringue ao lado do altar
é inusitado, mas não extraordinário entre evangélicos",
diz a antropóloga Clara Mafra,
pesquisadora da religião. "Nos
anos 1940, eles introduziram
no Brasil guitarras em cultos.
Nos anos 1950, a Assembleia
de Deus fez concursos de miss
entre as irmãs e não deu certo.
A junção de sagrado e mundano causa estranheza, que pode
ser ruim ou ter apelo como
bom marketing religioso."
Jiu-jitsu
Duas vezes por semana, o
mesmo templo da Renascer
fica aberto para treinos de jiu-jitsu. "Quem vem aprende esporte e larga os vícios do mundão", diz Emerson Silva, 27,
que se diz cético sobre as polêmicas envolvendo a igreja
(prisão dos líderes por sonegação e críticas pela queda do
teto de um templo que deixou
nove mortos).
As lutas acontecem no fundo da igreja, após os cultos. "O
primeiro foco é Deus, mas o
esporte ajuda os jovens", diz
Filipe Farias, 18, frequentador
também da igreja Bola de Neve, que adota sintonia com esporte -no caso, uma prancha
de surfe sobre o púlpito.
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